Associação Profissionais da Guarda critica estudo sobre suicídios na PSP e na GNR

Era necessário, no mínimo, cada comando territorial ter psicólogos para fazer medicina preventiva, diz César Nogueira, da APG.

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Enric Vives Rubio

A Associação dos Profissionais da Guarda concorda com a necessidade de contratar mais psicólogos para a GNR, mas discorda do estudo sobre suicídio que aponta como causa razões pessoais ou familiares e defende que têm raiz profissional.

O estudo, apresentado na terça-feira, concluiu que os 89 elementos da PSP e GNR que se suicidaram entre 2007 e 2015 tinham como perfil comum problemas pessoais ou familiares, sendo esta a principal causa para o suicídio. “Discordamos porque não sei como chegam à conclusão de que os suicídios ocorreram por questões pessoais (...). É porque realmente não conhecem como é trabalhar na GNR”, disse à Lusa César Nogueira, da APG, sublinhando que as razões profissionais são a raiz do problema.

“Os guardas só no final do ano passado tiverem em lei os horários de serviço. Trabalharam muitos anos 24 horas longe de casa, muitos iam a casa de semana a semana (...). Tudo isto levava a questões pessoais, pois não estavam com os filhos, com as famílias. Por isso é que o índice de divórcio nas forças de segurança, neste caso na GNR, sempre foi elevado”, acrescentou.

De acordo com o estudo, elaborado no âmbito do grupo de trabalho de prevenção do suicídio nas forças de segurança e que custou ao Ministério da Administração Interna (MAI) 11.685 euros, outros dos factores que distinguem os elementos das forças de segurança que se suicidaram foram o maior número de processos legais (disciplinares e judiciais) e o maior número de dívidas e penhoras (judiciais ou fiscais).

Mais psicólogos

Para César Nogueira, alguns destes processos tinham que ver com o facto de, com os cortes de vencimentos nos últimos anos, os guardas não conseguirem fazer face aos seus compromissos. O responsável sublinha ainda a necessidade não só de mais psicólogos na GNR, mas de uma medicina preventiva, que diz ter deixado de ser feita “por falta de verbas”.

“É preciso esse reforço para fazer medicina preventiva na GNR. Isso só há meia dúzia de anos é que começou a ser feito, mas parou por falta de verba”, afirmou.

Além disso, frisou a necessidade de distribuir por todo o território nacional estes apoios psicológicos, que apenas existem nos centros clínicos da GNR (Lisboa, Porto, Coimbra e Faro). “Era necessário bem mais do que na PSP porque a GNR está mais dispersa no país, cobre mais de 90% do território. A GNR tem um centro clínico em Lisboa, e depois delegações no Porto, Coimbra e Faro, mas era necessário, no mínimo, cada comando territorial ter psicólogos para fazer medicina preventiva”, considerou.

César Nogueira reconhece, contudo, que os elementos da GNR, por vezes, “escondem as suas fragilidades” e acabam por não procurar este apoio.

“Os agentes precisam de estar física e psicologicamente bem. Bem sei que por vezes escondem fragilidades, ou não se procura ou se procura fora [da instituição]. A nossa condição faz com que não mostremos as fragilidades aos cidadãos”, disse.

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