Anjos do Cinema

É excitante que La La Land possa ganhar muitos prémios. Tomara. Merece.

Cede-se ao filme La La Land. A ilusão já existe dentro de nós, projectada por Hollywood na nossas almas, naqueles anos em que ainda não dávamos por nós mesmos. 

A atitude blasé já chateia. Sim, sabemos que é tudo mentira. Sim, já lá fomos ver e é horrível. Mas o cinema é o cinema não em relação à vida e à realidade mas à nossa fantasia e à nossa imaginação.

Hollywood - uma atitude e uma maneira de ver, mais do que um lugar ou uma indústria - é onde tudo pode acontecer. Tanto mais que acontece. E volta a acontecer. Em La La Land, por exemplo.

Não, não é Vincente Minnelli a dirigir Fred Astaire e Cyd Charisse em The Bandwagon em 1953. Minelli e Astaire tinham 50 anos. Só Charisse tinha a idade que Damien Chazelle tem hoje, 31 anos. As comparações são duras mas aguentam-se. Chazelle, Ryan Gosling e Emma Stone tiveram mais coragem ainda. Saem-se muito bem só porque, de facto, conseguem.

Chazelle é generoso nas referências mas é tudo menos um recriador. La La Land é um filme romântico que não se protege nem se circunscreve com citações ou gestos de ironia. Nem pede desculpa pelos sonhos ou pelas limitações da actualidade. Pelo contrário, atira-se com tudo o que tem, como se fosse agora ou nunca. E é.

O espírito é o de milhares de filmes musicais: “let’s do the show right here!”. Faz tudo com os actores - e a música e os locais de filmagem - que hoje existem. Torna Los Angeles no LA que só existe na Hollywood que Hollywood inventou.

É excitante que La La Land possa ganhar muitos prémios. Tomara. Merece.

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