Gripe e frio já estão a provocar mais mortes do que seria de esperar

Valor médio da temperatura mínima em Portugal continental foi de 3,2ºC, muito inferior ao normal para o mês de Dezembro.

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Olhando para o registo histórico, ainda não estaremos no pico da epidemia Rui Gaudêncio/Arquivo

A mortalidade por todas as causas já está acima do esperado para esta época do ano, numa altura em que a intensidade da epidemia de gripe ainda é moderada, adianta o boletim de vigilância epidemiológica divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (Insa).

No boletim em que todas as quintas-feiras os especialistas do Insa actualizam os indicadores da evolução da actividade gripal, é visível o crescimento da mortalidade já na semana anterior ao Natal (período compreendido entre 19 e 25 de Dezembro). Um problema que decorrerá em parte da epidemia de gripe – que nessa semana atingiu uma taxa de incidência de 113,3 casos por 100 mil habitantes, substancialmente superior à da semana anterior – mas também é consequência do frio que se tem feito sentir. Na semana antes do Natal, lê-se no boletim, o valor médio da temperatura mínima do ar em Portugal continental foi de 3,2°C, "muito inferior ao valor normal" para o mês de Dezembro. 

"Era previsível que isto acontecesse", reage a subdirectora-geral da saúde, Graça Freitas, que lembra que a epidemia de gripe está a ter padrões semelhantes aos observados no Inverno de 2014/2015, quando houve uma subida súbita dos casos da infecção e da mortalidade em geral. O tipo de vírus da gripe que predomina este ano é de novo o A (H3N2), que afecta sobretudo idosos e pessoas com doenças crónicas e tem grande impacto na mortalidade. Este tipo de vírus propaga-se com muita facilidade e origina habitualmente epidemias de grande intensidade, volta a frisar Graça Freitas. 

Todos os indicadores reflectem, aliás, a mesma tendência: “Há mais casos de gripe, mais idas aos serviços de urgência, mais chamadas para a linha Saúde 24 e, infelizmente, há mais óbitos”. Para responder à elevada procura dos serviços de urgência hospitalares, as administrações regionais de saúde decidiram reforçar os horários de atendimento em vários centros de saúde.

É uma conjugação fatal. As temperaturas muito baixas, associadas à predominância deste tipo de vírus da gripe, o A (H3N2) leva à descompensação de patologias, como a diabetes e doenças respiratórias, sobretudo nos idosos, explica Graça Freitas, que volta a insistir na vacinação. "Ainda vai a tempo porque o período epidémico da gripe dura entre oito a doze semanas", enfatiza. Até porque, olhando para o registo histórico e comparando com anos anteriores, ainda não estaremos no pico da epidemia.

Nas unidades de cuidados intensivos, a mortalidade não aumentou, porém. Desde o início da monitorização da época gripal, em Outubro, há registo de sete mortes entre os 48 casos que obrigaram a internamento em unidades deste tipo nos hospitais. Mais de 70% dos doentes internados em unidades de cuidados intensivos com complicações decorrentes da gripe (como pneumonias) tinham mais de 64 anos, a maior parte sofria de doenças crónicas e não estava vacinado, de acordo com a informação das 18 unidades de cuidados intensivos que enviaram dados para o Insa na semana anterior ao Natal.

Em toda a região europeia, há um aumento da actividade gripal, com 27 países a reportar actividade gripal de baixa intensidade, 12, moderada, e três, elevada. Quase todos (98%) os vírus identificados e caracterizados pertenciam ao subtipo A (H3N2).

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