Mortes de mulheres por causa do cancro vão aumentar 60% até 2030

A conclusão é de dois estudos publicados recentemente que estimam um forte aumento no número de casos diagnosticados e mortes relacionadas com o cancro.

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De acordo com as estimativas, em 2030 5,5 milhões de mulheres morrerão de cancro Fernando Veludo/NFactos/ Arquivo

O número de mortes nas mulheres provocadas por cancro está a crescer e não vai parar de aumentar. Os números publicados em dois relatórios estimam que até 2030 morram cerca de 5,5 milhões de mulheres, vítimas de cancro. Um número equivalente a metade de toda a população residente em Portugal. Feitas as contas trata-se de um aumento de 60% em menos de duas décadas, precisa o estudo da American Cancer Society (ACS) conhecido nesta terça-feira, num congresso em Paris. Actualmente, o cancro está a matar uma em cada sete mulheres no mundo, tornando-se a segunda causa de morte, só precedida pelo AVC, especifica o mesmo estudo.

A maioria dos casos são provocados pelo cancro da mama e deverá ser este o tipo de cancro mais fatal nos próximos 15 anos, estima um segundo estudo publicado pelo jornal britânico de medicina Lancet. Neste segundo documento, os investigadores calculam que até 2030 sejam diagnosticados 3,2 milhões de casos de cancro da mama em mulheres – quando no ano passado o número rondou os 1,7 milhões de casos.

Em 2013, uma em cada quatro mortes em Portugal deveu-se ao cancro, proporção que chega a mais de duas em cada três (40%) nas pessoas com menos de 65 anos, segundo dados do Eurostat. Uma vez que a população continua a crescer e a envelhecer, as mais afectadas serão as mulheres nos países pobres e em desenvolvimento, em grande parte em situações em que a doença poderia ser prevenida.

O número de casos diagnosticados com cancro do colo do útero também deverá aumentar, “pelo menos 25%, para mais de 700 mil casos em 2030”, lê-se no trabalho publicado pelo Lancet e citado pela AFP.

Apesar de ser nos países mais pobres que um menor número de casos são diagnosticados e, consequentemente, há mais casos de mortes, é no grupo das mulheres de países em desenvolvimento que o risco está a aumentar, consequência da rápida transição económica destes países, explica Sally Cowal, vice-presidente sénior da saúde global na ACS. A falta de exercício físico, uma dieta pouco saudável, obesidade e adiar a maternidade são algumas das justificações citadas.

Devido a estas mudanças económicas, “os cancros associados a economias de países desenvolvidos estão a tornar-se mais comuns”, acrescenta o estudo da ACS.

Os relatórios destacam ainda que quatro dos tipos de cancro mais mortais – cancro da mama, dos intestinos, pulmão e colo do útero – podem ser prevenidos ou detectados num estágio inicial, quando o tratamento é mais eficiente.

Existe um número considerável de medidas de prevenção disponíveis para vários países, e a maioria destas medidas tem uma extrema relação de custo-eficácia comparativamente ao custo de tratamento, conclui o estudo da ACS, exemplificando o recurso à vacinação como forma de prevenção.

O estudo citado no Lancet aponta como exemplo a vacina do vírus do papiloma humano que se aplicada a todas as crianças com 12 anos poderia prevenir cerca de 420 mil mortes no mundo ao longo de uma geração.

As conclusões sublinham que para reduzir o número de casos a prioridade é reduzir os factores de risco e tornar a prevenção acessível a todos. “Para os que enfrentam a doença agora, é preciso investir em tratamentos eficientes e em cuidados paliativos. Além disso, a vigilância e a investigação para a prevenção e tratamento continuam a ser indispensáveis”, sublinha a instituição.

Em 2012 registaram-se 6,7 milhões de novos casos de cancro e 3,5 milhões de mortes entre as mulheres. Destes, 56% dos casos e 64% das mortes ocorreram em países menos desenvolvidos, a maioria na Ásia Oriental, com destaque para a China.

No entanto, quando olhamos para o rácio do número de casos, tendo em conta a população, os números ainda apontam as economias desenvolvidas da Europa, América e Ásia como as que registam mais casos, em parte devido ao aumento do rastreio.

Já os países que falham no rastreio e que têm um acesso reduzido aos tratamentos são os que, sem surpresas, apresentam as maiores taxas de mortalidade nos casos de cancro. Zimbabwe, Malawi, Quénia, Mongólia e Papua-Nova Guiné são os que exibem a taxa de mortalidade mais elevada.

Falhas no equipamento

O cancro da mama e do pulmão são os dois tipos mais comuns, quer em países ricos, quer em pobres. O terceiro cancro mais fatal é o do colorrectal nos países desenvolvidos e o do colo do útero nos países em desenvolvimento. Especifica o relatório da ACS que nove em cada dez mortes por cancro do colo do útero se verificam em países em desenvolvimento, com a África subsariana, a América Central e do Sul, bem como o Sudeste da Ásia e da Europa Oriental a registarem as maiores taxas de mortalidade.

O relatório da ACS também avançou as "faltas" em equipamentos de radioterapia na África e Sudeste Asiático, apesar de concentrarem 60% dos casos de cancro diagnosticados.

“A comunidade global não pode continuar a ignorar o problema – centenas de milhares de mulheres continuam a morrer desnecessariamente todos os anos”, critica Richard Sullivan, professor universitário do King’s College London que assina o estudo citado no Lancet.

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