PS-Porto avoca processo eleitoral de Matosinhos para lançar Luísa Salgueiro

Líder concelhio não se conforma e diz que será “uma voz crítica dentro do partido”. Desafia a distrital a fazer reflexão sobre as vantagens de não apresentar uma candidatura ao Porto.

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Manuel Pizarro é acusado pelo líder da concelhia de Matosinhos de estar a fazer uma afronta aos militantes do concelho Dato Daraselia

A avocação do processo eleitoral autárquico de Matosinhos pela comissão política da Federação do Porto do PS, aprovada esta segunda-feira à noite com 96% dos votos naquela estrutura distrital, afasta definitivamente Ernesto Páscoa da corrida à presidência do município matosinhense e abre caminho à candidatura da deputada, Luísa Salgueiro, que deverá contar com o apoio do movimento independente pelo qual se candidatou em 2013 Guilherme Pinto, o actual presidente.

Ao longo do processo e numa tentativa de evitar rupturas fratricidas, a distrital, liderada por Manuel Pizarro, fez várias diligências junto do presidente da concelhia, Ernesto Páscoa, e, segundo fontes socialistas, até se mostrou disponível para cooperar. Sucede, porém, que a concelhia o escolheu para liderar a lista do partido e que essa escolha nunca foi acarinhada pela distrital, que entende que Luísa Salgueiro é “a melhor solução” para ganhar, de novo a câmara.

A decisão da distrital de chamar a si o processo de Matosinhos acontece um dia depois de a concelhia ter aprovado uma moção de de apoio ao presidente da concelhia e um documento em que critica a não ratificação do candidato à câmara em 2017 pela federação distrital.

Prometendo manter-se à tona da política autárquica e declarando que será uma “voz crítica dentro do partido”, Ernesto Páscoa diz que “em Matosinhos mandam os que cá estão”. Áspero para com o líder da distrital, a quem acusa de não ter “uma postura imparcial” ao longo de todo o processo, o dirigente encara a avocação do processo como “uma afronta aos militantes socialistas de Matosinhos", que aprovaram o seu nome como candidato à câmara.

Afirmando que, ao avocar o processo autárquico, a “distrital feriu os princípios democráticos e os valores que há 40 anos fazem parte do PS, Páscoa afasta uma candidatura independente à Câmara de Matosinhos. “O PS às vezes distancia-se de mim, mas depois aproxima-se, mas eu não me afasto do PS”, diz, lamentando que o presidente da Federação Distrital do Porto “nunca tenha mostrado disponibilidade para se deslocar à concelhia para falar com os militantes”.

A um ano das eleições locais, Ernesto Páscoa fala da “má opção” do partido de não apresentar um candidato ao Porto e afirma não entender por que razão o partido o faz. “Acho mal que na segunda cidade do país o PS não apresente uma candidatura própria alternativa a Rui Moreira. Não apresentando uma lista à câmara, vai obrigar os militantes a votarem num candidato independente quando podiam votar num candidato socialista”, lamenta.

Falando na condição de militante e não de dirigente com responsabilidades, o também vereador (sem pelouros) da Câmara de Matosinhos não poupa Manuel Pizarro pela estratégia seguida que considera estar a “condenar o Partido Socialista nos próximos anos”. “Por muita boa relação que exista na Câmara do Porto com o independente Rui Moreira [com quem os socialistas têm um acordo de governação], o PS como força que é de poder nunca poderia deixar de ter uma candidatura sua. O PS não pode claudicar e ser submisso a uma candidatura opositora só porque as expectativas de vencer Rui Moreira nas próximas eleições são muito baixas”, declara ao PÚBLICO o dirigente do PS de Matosinhos.

”Com esta estratégia, o PS não só deixa de ter uma voz activa no Porto nos próximos nove anos, e isso é muito mau para o partido, como também não apresenta candidaturas às juntas de freguesia”, insurge-se, lançado um apelo ao partido para que faça uma reflexão: “Quais as vantagens que o PS pode retirar desta estratégia de apoiar um candidato independente na segunda cidade do país?” “Do meu ponto de vista, não vejo nenhuma!”

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