Consumo de bebidas alcoólicas está estável, mas mais arriscado

Relatório anual da situação do país em matéria de álcool apresentado esta quarta-feira na Assembleia da República.

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A maior parte das pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos (59%) considera o consumo regular um comportamento de "alto risco" Vitor Cid

O consumo de bebidas alcoólicas manteve-se relativamente estável em 2014 (70% dos adultos admitiram ter bebido pelo menos uma vez no ano anterior), mas subiu o nível do consumo arriscado, o chamado binge: 33% dos consumidores ingeriram, pelo menos uma vez, seis ou mais bebidas alcoólicas numa única ocasião.

A notícia está no “Relatório anual da situação do país em matéria de álcool ", apresentado na manhã desta quarta-feira na Assembleia da República pelo coordenador Nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do Uso Nocivo do Álcool, João Castel-Branco Goulão. Na mesma sessão, foi apresentado Relatório Anual sobre "A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências". 

Os resultados do Inquérito Nacional de Saúde de 2014 não mostram níveis de prevalência diferentes dos de 2012: 70% da população com 15 ou mais anos tinha consumido bebidas alcoólicas pelo menos uma vez nos 12 meses anteriores. Só que os valores do binge eram superiores: 33% da população consumidora referiu ter tomado, pelo menos uma vez, 6 ou mais bebidas alcoólicas numa única ocasião - menos de metade referiu tê-lo feito de forma ocasional. Recorde-se que em 2012 as prevalências de consumo binge na população adulta eram de 12% do total e 20% dos consumidores recentes. 

Apesar do elevado nível de consumo, os jovens portugueses até mostram ter mais consciência dos riscos do que os outros europeus. Conforme o Flash Eurobarometer 2014, a grande maioria dos jovens portugueses de 15-24 anos considerou o consumo regular de álcool como de alto risco (59%) ou de médio risco (36%) para a saúde.

E as previsões trazem alguma esperança de mudança. De acordo com o relatório produzido pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), entre 2010 e 2014 no seio da população escolar caiu a frequência de consumo dos vários tipos de bebidas alcoólicas e a frequência da embriaguez. 

Nada disso impediu que em 2014 o país registasse um número considerável de internamentos hospitalares motivados pelo consumo excessivo de álcool. No fim do ano em análise, tinham-se contado 5768 pessoas internadas por causa do consumo de álcool. Mas acentuou-se a tendência decrescente, que já vinha dos três anos anteriores  (menos 7% face a 2013 e menos 17% em relação a 2012).

Se não se atendesse apenas ao diagnóstico principal, mas também aos secundários, o número de internamentos atribuíveis ao consumo de álcool subia de forma substancial (34272 internamentos em 2014). E esses têm vindo a aumentar ao longo dos últimos anos (mais 1,4% entre 2013 e 2014).

Há cada vez mais pessoas a procurar ajuda. Em cada dia de 2014, uma dúzia de pessoas iniciou tratamento e uma dezena foi internada por causa de algum problema relacionados com bebidas alcoólicas. Naquele mesmo ano, estiveram em tratamento no ambulatório da rede pública 11.881 pessoas, 3353 das quais pela primeira vez. É a confirmação da tendência de crescimento, que já se vinha registando nos três anos anteriores. O número de internamentos manteve igual propensão. Deram entrada em Unidades de Alcoologia e Unidades de Desabituação 1472 pessoas e 2256 em Comunidades Terapêuticas.

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