Na mensagem que leu ao país, Cavaco Silva sublinhou o seu forte receio de uma “quebra de confiança das instituições internacionais nossas credoras, dos investidores e dos mercados financeiros externos”. Isto se o novo governo formado pelo PSD e CDS cair por terra mal tenha sido erguido.

Apelando a uma espécie de rebelião no seio do PS, ao mostrar o desejo de que haja deputados socialistas contrários a um governo viabilizado pela esquerda que deixem passar o programa de governo da coligação, Cavaco Silva enumerou tudo o que tem sido rejeitado pelo PCP e pelo Bloco, desde a moeda única até à NATO. Se o líder do PS andava a tentar tranquilizar os mercados, mostrando respeito pelas regras europeias, depois desta noite terá de começar o trabalho do princípio.

A táctica do PS parece ser a de juntar forças à esquerda e fazer tombar o novo Governo, avançando depois para um governo minoritário com negociações de incidência parlamentar com o Bloco e PCP. Concorde-se ou não com esta estratégia, é difícil acreditar que esse tipo de acordos dure muito tempo.

Vai durar o que for possível dentro, segundo se espera, do quadro europeu ao qual Portugal pertence, do timing de o PS ir de novo a eleições, e de os outros partidos contarem as suas espingardas. Daí a considerar que vai nascer em Portugal um governo de coligação que risca o país da lista de membros do euro é um passo para toda uma outra dimensão.

Em paralelo, o próprio discurso de Cavaco Silva sugere que poderá não dar posse a outro governo. Assim, haveria um governo de gestão até que o novo Presidente da República possa marcar novas legislativas, tentando clarificar as águas no ano que vem.

O que os investidores querem é um ambiente de confiança e, com toda a sua legitimidade, fazer dinheiro. No meio de tudo isto, tento colocar-me na cabeça de um investidor,  e penso que, se não estava muito preocupado até agora, depois desta noite o grau de risco está mais alto.