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Costa diz "nim" à rejeição do programa da coligação

Líder socialista quer “esperar para ver” até onde vai a convergência à esquerda antes de assumir uma posição clara sobre a intenção do PCP e BE.

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António Costa com militantes do PS na Alfândega do Porto Miguel Nogueira

Mas durante esta quarta-feira, a estratégia seguida por Costa passou por manter todas as possibilidades em aberto nos próximos tempos. Já depois da reunião da comissão política, o PÚBLICO questionou o líder do PS em relação à intenção do PCP e BE para avançarem com moções de rejeição ao programa de governo da coligação. “Vamos esperar para ver”, disse de pronto Costa antes de se acantonar numa declaração repetida desde domingo: “Não votamos moções que não tenham garantida a viabilização de um governo.”

O comunicado da reunião interna socialista, realizada na terça-feira, seguia essa mesma linha cautelosa. O mandato aprovado alargava as negociações à “globalidade do quadro parlamentar todas as diligências julgadas necessárias”, mas com recados. Para o PSD e CDS, a mensagem focava que o “ónus” de criar “condições de governabilidade” estava do lado da direita. Ao PCP e BE, exigia-se que demonstrassem a “existência de condições” para o seu apoio a um governo de esquerda “maioritário”.

Ainda assim, Costa fez questão de não hostilizar essas forças políticas. Já de madrugada, o líder do PS afirmou que "nunca poderia ser indiferente" às declarações do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, após as eleições, sobre a necessidade de formação de um Governo de esquerda, nem ignorar que a porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, também já depois das eleições, reafirmou as condições para a formação de um executivo de esquerda.

Após a reunião com o PCP, Costa foi igualmente cauteloso. “Há condições para aprofundar pontos de convergência identificados nesta reunião, dando-lhes expressão institucional", disse o socialista na sede comunista.

Já sobre o Presidente da República, Costa foi mais assertivo, acabando a criticar Cavaco Silva. Reagindo à comunicação ao país, o líder socialista classificou a declaração como “bastante atípica” e explicou porquê: “Não basta falar com o líder do seu partido.” O facto de Cavaco apenas se ter reunido com Pedro Passos Coelho antes de se dirigir ao país “não contribuiu para a construção de uma boa solução de estabilidade política”, criticou.

Durante a reunião interna, António Costa nunca elencou quais seriam as linhas vermelhas nessas negociações. Tudo muito vago, admitiu um dirigente socialista, porque o líder do PS não podia surgir como o causador da ruptura. “Com o BE e o PCP terá de tentar encostá-los, para mostrar que não é primeiro-ministro porque a esquerda não quer. Na direita, é tentar condicionar e ameaçar com a esquerda”, resumia esse membro da comissão no rescaldo da reunião.

A comissão política terminou com a aprovação de um comunicado, com apenas 4 votos contra e três abstenções. Depois de quatro horas e dezenas de intervenções, os socialistas acabaram por corroborar os primeiros sinais e condições definidas por António Costa em relação ao próximo processo negocial tendente ao suporte do futuro governo. 

Mas o debate que o PS tinha para fazer na sua comissão politica já estava a ser feito no Largo do Rato. Quanto à política de entendimentos, à entrada da reunião da comissão política, a disparidade de posições tornava-se mais evidente. Vera Jardim, ex-ministro da Justiça, via como exequível o “diálogo com a coligação”, enquanto que “à esquerda” não via “capacidade de diálogo nenhuma”. O reverso da medalha surgiu com o ex-presidente da câmara de Lisboa e antigo candidato à liderança do PS, João Soares, defendeu que o PS devia comprometer-se “seriamente com a obtenção de uma maioria absoluta de esquerda”, através de uma “negociação  séria com o BE e o PCP”.

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