Gripe: Inverno passado foi um dos piores com mais de 5500 mortes em excesso

Secretário de Estado diz a mortalidade é idêntica à de anos anteriores mas que no Inverno passado houve "circulação de vírus não cobertos pela vacina"

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Cerca de 90% dos utentes de lares de idosos já estão vacinados contra a gripe AFP

Já tinha sido anunciado que no último Inverno houve um pico de mortalidade devido à epidemia de gripe e à vaga de frio que vergastou o país, mas o relatório do Programa Nacional de Vigilância da Gripe 2014/2015 divulgado esta terça-feira precisa que, no total, se registaram 5591 mortes acima do esperado para essa época do ano. O fenómeno verificou-se em todo o continente, à excepção do Algarve.

Foi o Inverno com mais mortalidade em excesso observada a seguir ao de 1998/1999, em que os peritos calcularam que houve 8514 mortes acima do esperado, de acordo com os registos disponíveis.

Os especialistas referem que 76% destas mortes deve ser atribuído à epidemia de gripe e 17% à vaga de frio (os 7% em falta não são explicados) e notam que também outros países europeus registaram um excesso de mortalidade neste período. O gráfico do projecto europeu “EuroMOMO” (monitorização da mortalidade) para que remetem prova, de facto, este fenómeno, mas Portugal destaca-se com um dos maiores picos de mortalidade, em conjunto com a Inglaterra, Suiça, Espanha e outros. Usando a metodologia do EuroMOMO, aliás, as mortes em excesso baixam para 4797.

Baltazar Nunes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (Insa), explicou ao jornal “i” que são várias as razões que justificam excesso de mortalidade: além do período de frio acentuado, uma das estirpes em circulação não coincidiu exactamente com a que foi usada na preparação da vacina disponibilizada, além do facto de muitas pessoas mais vulneráveis não se terem vacinado. Ressalvando que a epidemia de gripe sazonal provoca sempre grande pressão nas urgências, Baltazar Nunes diz que o sistema montado não permite perceber se a resposta dos serviços de saúde teve algum efeito no excesso de mortalidade.

Mas o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, defende que este relatório apenas “repete e reúne a informação que foi saindo no Inverno”. “Não tem dados novos, excepto na análise”, afirma, em resposta escrita enviada ao PÚBLICO, notando que "a novidade" é a de que o excesso de mortalidade relacionável com a gripe e o frio foi de “4797 óbitos”. Trata-se de uma mortalidade “idêntica à de anos anteriores de AH3N2 [estirpe mais letal do vírus da gripe]”, acrescenta.

Lembrando que há registos de picos de mortalidade em excesso nos Invernos de 1980-81 e 1998-99, o governante considera que este relatório “é claro" quando afirma que, no período em análise, “ocorreram dois eventos que potencialmente podem explicar este aumento do risco de morrer”, a  epidemia de gripe sazonal e várias semanas com temperaturas mínimas abaixo do normal.

Foi, portanto, a “ocorrência tardia e inusitada de frio extremo” que aumentou a probabilidade de excesso de mortalidade já após "um período de mortalidade elevada em idosos cobertos com uma vacina não 100% eficaz”. Este perfil de mortalidade revelou-se, afirma,“idêntico e até inferior ao encontrado em outros países europeus nos mesmos períodos”.

O sceretário de Estado lembra ainda que, "infelizmente”, no ano passado houve circulação de vírus não cobertos pela vacina". "Não havia como evitar essa situação que não se deverá repetir este ano”, enfatiza, defendendo que o facto de a  mortalidade em unidades de cuidados intensivos ter sido muito baixa "atesta a qualidade dos meios técnicos e humanos do SNS”.

Leal da Costa acrescenta que, "curiosamente", a mortalidade foi quase toda devida a casos de vírus B cuja estirpe dominante na época de 2014-2015 não era coberta pela vacina existente, situação que já foi corrigida para a vacina da época em curso (2015-16).

Este ano o ministério comprou mais vacinas do que no ano passado e recomenda fortemente a vacinação de todos os idosos com mais de 65 anos e de outras pessoas com factores de risco como doenças crónicas debilitantes e respiratórias, conclui.

Inquirido sobre as mortes em excesso no Inverno, o director-geral da Saúde, Francisco George, defende que vai ser preciso aguardar pelo final deste ano para "perceber o perfil da mortalidade, porque em regra [em termos anuais] tem vindo a verificar-se uma diminuição".

 

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