Passos recusa “ocultação” de prejuízos no BPN, oposição fala em "truques" no défice

Foto
Paulo Pimenta

“Não temos nenhuma razão para dizer que tivessemos ocultado quaisquer prejuízos. São inscritos nas contas e vai ao défice”, afirmou o primeiro-ministro, em reposta aos jornalistas e depois de confrontado com a notícia da Antena 1 de que a Parvalorem (gestora dos activos tóxicos do banco) mexeu nas contas para esconder perdas com o crédito mal parado, a pedido da então secretária de Estado. “A transparência é total. Foi um exercício competente. Eu teria feito a mesma coisa”, disse o primeiro-ministro e líder da coligação Portugal à Frente (PaF), à margem de uma acção de campanha em Cantanhede, Coimbra.

Por diversas vezes, Passos Coelho garantiu tratar-se de “estimativas”. “A Parvalorem propôs uma estimativa que devia ser revista”, afirmou, acrescentando esperar que “o lead [primeiro parágrafo] da notícia seja corrigido”.

O líder da coligação tentou insinuar que há “interesses” em certas notícias “à medida que a campanha vai avançando”. Questionado sobre da parte que quem é que tem esses interesses, Passos Coelho respondeu: “Não faço processos de intenção”. E disse estar disponível para clarificar notícias que “parecem o que não são”. 

Quantos truques por descobrir, questiona Costa
Outra visão tem o secretário-geral do PS, que considera que o Executivo foi apanhado "mais uma vez num truque" feito, diz, para "disfarçar as contas de 2012".

"O que nos interrogamos é quantos truques estão ainda por descobrir", sublinhou António Costa, insistindo: "É dramático para a credibilidade da vida politica e da democracia quando, permanentemente, não há semana que passe em que o Governo em que não seja apanhado numa tentativa de enganar os cidadãos".

O socialista advogou, todavia, que "não há números, não há truques, não há contabilidades que disfarcem aquilo que é a realidade concreta da vida das pessoas", falando, por exemplo, da emigração dos jovens.

Contabilidade criativa, diz CDU
Jerónimo de Sousa considera o caso das contas alteradas da Parvalorem para melhorar o défice de 2012 como mais um exemplo das “operações criativas de contabilidade para esconder a verdade do que foi aquele escândalo”.

“Temos vindo a verificar que o tratamento estatístico e contabilístico, esta arte de substituir a verdade por esquemas, não é novidade neste Governo. Creio é mais um elemento e isso tem importância”, afirmou o líder da CDU aos jornalistas no final de uma arruada na Parede (Oeiras).

“É o Governo da República, tem que de ser pessoas de bem, e fazer essa manigância só para esconder aos olhos dos portugueses mais um pequeno buraco – pequeno entre aspas, no todo do BPN é pequeno – demonstra que também no plano ético este Governo falhou”, acrescentou Jerónimo.

Estes episódios mostram que o Governo é “capaz de sacrificar tudo para apresentar aos portugueses uma ideia de que conseguiu endireitar as contas, conseguiu resolver os problemas, que agora é que vem aí um futuro risonho. Mas quando começamos a verificar no concreto, a esmiuçar, verificamos que é tudo uma grande encenação porque o Governo não resolveu os problemas de fundo da nossa sociedade e, sempre que foi necessário, perturbou, alterou, torturou estatísticas para se apresentar como o grande salvador dos problemas nacionais. Quando na verdade não passa de conversa fiada”, criticou o secretário-geral comunista.

Contas de fiar como as emissões de gases da VW, diz BE
A porta-voz do Bloco de Esquerda Catarina Martins considerou nesta terça-feira de manhã que o actual executivo “não governou para as pessoas”, mas antes para “tentar disfarçar metas” que “nunca alcançou”. A candidata ressalvou, porém, que não foi o único a fazê-lo: “Este tipo de estratagemas, ou seja, alterações contabilísticas para o défice foram feitas vezes demais em Portugal e por vários governos.”

À tarde, Catarina Martins acrescentou que a ministra das Finanças “é tão de fiar nas suas contas como a contagem das emissões de gases da Volkswagen” e defendeu "as contas da Parvalorem forem marteladas”.

“A Parvalorem tinha contas fechadas e auditadas e a ministra das Finanças deu instruções para alterarem as contas, para disfarçarem o impacto do buraco do BPN nas contas do défice do país. As contas foram alteradas e quem tinha auditado as contas disse logo: as contas assim não estão certas”, afirmou.

E aproveitou também para contar que reparou como “o primeiro-ministro ficou incomodado" com a notícia. Sobre isso, fez questão de deixar um recado: “Talvez fosse bom informar Pedro Passos Coelho que esta é uma democracia”, disse, frisando que a função dos jornalistas é “investigar e mostrar a realidade do país, mesmo quando isso incomoda o Governo e, principalmente, quando o Governo está a esconder dos seus cidadãos as contas do país.”

 

Sugerir correcção
Ler 11 comentários