Passos recusa “ocultação” de prejuízos no BPN, oposição fala em "truques" no défice
“Não temos nenhuma razão para dizer que tivessemos ocultado quaisquer prejuízos. São inscritos nas contas e vai ao défice”, afirmou o primeiro-ministro, em reposta aos jornalistas e depois de confrontado com a notícia da Antena 1 de que a Parvalorem (gestora dos activos tóxicos do banco) mexeu nas contas para esconder perdas com o crédito mal parado, a pedido da então secretária de Estado. “A transparência é total. Foi um exercício competente. Eu teria feito a mesma coisa”, disse o primeiro-ministro e líder da coligação Portugal à Frente (PaF), à margem de uma acção de campanha em Cantanhede, Coimbra.
Por diversas vezes, Passos Coelho garantiu tratar-se de “estimativas”. “A Parvalorem propôs uma estimativa que devia ser revista”, afirmou, acrescentando esperar que “o lead [primeiro parágrafo] da notícia seja corrigido”.
O líder da coligação tentou insinuar que há “interesses” em certas notícias “à medida que a campanha vai avançando”. Questionado sobre da parte que quem é que tem esses interesses, Passos Coelho respondeu: “Não faço processos de intenção”. E disse estar disponível para clarificar notícias que “parecem o que não são”.
Quantos truques por descobrir, questiona Costa
Outra visão tem o secretário-geral do PS, que considera que o Executivo foi apanhado "mais uma vez num truque" feito, diz, para "disfarçar as contas de 2012".
"O que nos interrogamos é quantos truques estão ainda por descobrir", sublinhou António Costa, insistindo: "É dramático para a credibilidade da vida politica e da democracia quando, permanentemente, não há semana que passe em que o Governo em que não seja apanhado numa tentativa de enganar os cidadãos".
O socialista advogou, todavia, que "não há números, não há truques, não há contabilidades que disfarcem aquilo que é a realidade concreta da vida das pessoas", falando, por exemplo, da emigração dos jovens.
Contabilidade criativa, diz CDU
Jerónimo de Sousa considera o caso das contas alteradas da Parvalorem para melhorar o défice de 2012 como mais um exemplo das “operações criativas de contabilidade para esconder a verdade do que foi aquele escândalo”.
“Temos vindo a verificar que o tratamento estatístico e contabilístico, esta arte de substituir a verdade por esquemas, não é novidade neste Governo. Creio é mais um elemento e isso tem importância”, afirmou o líder da CDU aos jornalistas no final de uma arruada na Parede (Oeiras).
“É o Governo da República, tem que de ser pessoas de bem, e fazer essa manigância só para esconder aos olhos dos portugueses mais um pequeno buraco – pequeno entre aspas, no todo do BPN é pequeno – demonstra que também no plano ético este Governo falhou”, acrescentou Jerónimo.
Estes episódios mostram que o Governo é “capaz de sacrificar tudo para apresentar aos portugueses uma ideia de que conseguiu endireitar as contas, conseguiu resolver os problemas, que agora é que vem aí um futuro risonho. Mas quando começamos a verificar no concreto, a esmiuçar, verificamos que é tudo uma grande encenação porque o Governo não resolveu os problemas de fundo da nossa sociedade e, sempre que foi necessário, perturbou, alterou, torturou estatísticas para se apresentar como o grande salvador dos problemas nacionais. Quando na verdade não passa de conversa fiada”, criticou o secretário-geral comunista.
Contas de fiar como as emissões de gases da VW, diz BE
A porta-voz do Bloco de Esquerda Catarina Martins considerou nesta terça-feira de manhã que o actual executivo “não governou para as pessoas”, mas antes para “tentar disfarçar metas” que “nunca alcançou”. A candidata ressalvou, porém, que não foi o único a fazê-lo: “Este tipo de estratagemas, ou seja, alterações contabilísticas para o défice foram feitas vezes demais em Portugal e por vários governos.”
À tarde, Catarina Martins acrescentou que a ministra das Finanças “é tão de fiar nas suas contas como a contagem das emissões de gases da Volkswagen” e defendeu "as contas da Parvalorem forem marteladas”.
“A Parvalorem tinha contas fechadas e auditadas e a ministra das Finanças deu instruções para alterarem as contas, para disfarçarem o impacto do buraco do BPN nas contas do défice do país. As contas foram alteradas e quem tinha auditado as contas disse logo: as contas assim não estão certas”, afirmou.
E aproveitou também para contar que reparou como “o primeiro-ministro ficou incomodado" com a notícia. Sobre isso, fez questão de deixar um recado: “Talvez fosse bom informar Pedro Passos Coelho que esta é uma democracia”, disse, frisando que a função dos jornalistas é “investigar e mostrar a realidade do país, mesmo quando isso incomoda o Governo e, principalmente, quando o Governo está a esconder dos seus cidadãos as contas do país.”