Kerry insiste na partida de Assad mas não fixa prazos
Washington já tinha deixado cair exigência de transição que afastasse por completo líder do regime. Mas declaração ganha importância acrescida pelo contexto em que é feita.
“Não tem de ser no primeiro dia ou no primeiro mês… Há um processo segundo o qual todas as partes devem encontrar-se e chegar a um entendimento sobre como isso pode ser conseguido”, disse Kerry este sábado, em Londres, depois de um encontro com o homólogo britânico, Philip Hammond, que manifestou o seu total acordo.
“Estamos prontos a negociar”, afirmou o chefe da diplomacia dos EUA. “Assad está pronto a negociar, a negociar verdadeiramente? A Rússia está disposta a levá-lo à mesa das negociações e a encontrar uma solução para esta violência?”
“Há ano e meio que dizemos que Assad deve partir, mas, o calendário e as modalidades, devem ser decididas no quadro do processo de [negociações] de Genebra”, declarou também, citado pelas agências noticiosas.
A Administração norte-americana tinha já, como disse o secretário de Estado, deixado cair a exigência de uma transição política que afastasse por completo o Presidente sírio. Mas a declaração deste sábado ganha renovada importância por se feita num momento em que EUA e Rússia dão sinais de disponibilidade para cooperarem no combate ao autoproclamado Estado Islâmico, apesar de estarem em campos opostos no relacionamento com o regime de Damasco.
Os EUA e a Rússia estão em conversações militares sobre a Síria, oficialmente destinadas a evitar incidentes entre forças dos dois países no terreno – onde uma coligação internacional liderada pelos EUA bombardeia o autoproclamado Estado Islâmico.
O reforço do apoio russo a Assad – acompanhado da disponibilidade para enviar tropas para lutar contra o Estado Islâmico –, a aparente maior debilidade das forças do regime bem como a crise dos refugiados na Europa parecem contribuir para um novo olhar sobre Assad e para as actuais movimentações diplomáticas.
Numa entrevista ao jornal The Guardian publicada nesta terça-feira, o antigo Presidente finlandês Martti Ahtisaari, revelou que, em 2012, a Rússia sugeriu que Assad poderia deixar o poder no âmbito de negociações entre o regime e a oposição, mas a proposta foi ignorada pelos países ocidentais, que acreditavam que o Presidente sírio seria derrubado em poucas semanas.