Jornalistas britânicos e grupo de media crítico de Erdogan na mira da justiça turca
Prisão de dois jornalistas britânicos ocorre num contexto de preocupação com a liberdade de imprensa na Turquia, onde, esta terça-feira, foram feitas buscas num grupo de media crítico do Presidente Erdogan.
Os casos ocorrem num momento tenso, depois de terem recomeçado confrontos entre forças de segurança e rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e a dois meses de eleições em que Erdogan aposta em recuperar a maioria absoluta perdida em Junho pelo seu partido, o AKP. Os adversários do Presidente acusam-no de alimentar uma “atmosfera de medo” para mobilizar o eleitorado nacionalista.
Os jornalistas Jake Hanrahan e Philip Pendlebury, da Vice News, e o seu tradutor iraquiano foram, na segunda-feira, acusados pelo tribunal de Diyarbakir, no sudeste de maioria curda, de “participar em actividades terroristas” do autoproclamado Estado Islâmico. Não foram adiantados detalhes sobre essa alegada participação, que negam. O motorista do grupo foi libertado.
A Vice News, um site noticioso com sede nos Estados Unidos, vocacionado para a geração que já nasceu com a Internet, disse que Hanrahan e Pendlebury foram detidos por terem filmado sem autorização governamental e que em seguida foram, “sem fundamento”, “acusados de apoiar o chamado Estado Islâmico”.
Informações recolhidas pela AFP indicam que a polícia prendeu os jornalistas e confiscou as imagens que tinham registado depois de ter sido informada da sua presença na região, onde as forças de segurança se confrontam com o PKK.
Na manhã desta terça-feira, em Ancara, a polícia fez buscas em instalações de 23 empresas de um grupo crítico do regime islamo-conservador do Presidente Recep Tayyip Erdogan – o Koza Ipek, que tem interesses desde a energia aos media e está ligado ao imã Fethullah Gülen, antigo aliado e hoje acérrimo adversário de Erdogan, auto-exilado nos Estados Unidos, defensor da modernização do islão e do diálogo inter-religioso.
Entre as empresas visadas na operação inserida, segundo a agência pró-governamental Anatolia, numa investigação “antiterrorista” a Fethullah Gülen, estão os jornais Bugün e Millet, a televisão Kanaltürk e a universidade Ipek. Foram detidas seis pessoas e apreendidos computadores e documentação. “O objectivo é silenciar os media da oposição antes das eleições”, disse à Reuters Erkan Akkus, director do Kanaltürk e da Bugün TV.
A Amnistia Internacional apelou à libertação “imediata” dos jornalistas britânicos e do tradutor e qualificou as acusações de “escandalosas e bizarras”. “É um novo exemplo do modo como as autoridades turcas suprimem as informações que as embaraçam”, disse Andrew Gardner, investigador da organização especializado em assuntos da Turquia.
A União Europeia manifestou-se “preocupada” com as detenções dos jornalistas da Vice News e com o raide policial. “Todos os países que negoceiam uma adesão à UE devem garantir o respeito pelos direitos humanos, incluindo a liberdade de expressão”, disse Maja Kocijancic, porta-voz para os Assuntos Externos.
Erdogan acusa o movimento Hizmet, de Fethullah Gülen, que tem uma rede de escolas e universidades e milhões de simpatizantes, de ter tentado derrubar o regime com uma operação anti-corrupção que, no Inverno de 2013-2014, visou o actual Presidente e colaboradores seus. Já noutras ocasiões, jornalistas que são próximos de Gülen foram alvo de acções policiais.