A agonia grega

Neste fim-de-semana os ATMs da Grécia estão a ficar sem dinheiro e aquilo que se temia começa a verificar-se, filas para o levantamento de depósitos, após o anúncio de Alexis Tsipras que iria referendar as propostas dos credores no dia 5 de Julho.

 Provavelmente este referendo nunca existirá, ou porque é tardio demais, ou porque nem sequer será legal.  Esta segunda-feira é possível que os bancos não abram. Se abrirem, é porque o Banco Central Europeu aceita continuar a sua assistência de liquidez de emergência (ELA) , fornecendo fundos à banca grega.

Na terça-feira 30, é o dia limite em que a Grécia deveria reembolsar parte do empréstimo do FMI (1,5 mil milhões) e é também o dia do fim do resgate, caso não haja acordo entre os credores e a Grécia. Nesse caso, entrará em incumprimento. Pode parecer que este volte-face nas negociações com a Grécia se deve ao FMI e a Christine Lagarde, mas neste concerto dos credores as decisões não são unilaterais.

Lagarde teve pelo menos a anuência de Angela Merkel e de Mario Draghi para avançar com as suas exigências. Fez apenas de polícia má, evitando que a Europa pareça hostilizar a Grécia e tirando alguns dividendos disso.

A questão é saber porque mudou o ambiente na Europa. A chave está, como não podia deixar de ser, na Alemanha, em particular Merkel, Schauble (que há muito considera a Grécia irrecuperável), e também em Sigmar Gabriel, cujas recentes declarações, denotam uma mudança de posição no social-democrata SPD. Também Draghi deve estar cada vez mais embaraçado em manter a assistência (ELA) à banca grega, pois para além do Bundesbank, que tem defendido o corte imediato  dessa assistência, outros governadores de bancos centrais defenderão o mesmo. É assim provável que assistamos ao controlo de capitais na Grécia na semana que agora se inicia. 

Tsipras, com o anúncio deste referendo, joga a sua sobrevivência política. Se o conseguir efectivar,  a vitória do não às propostas dos credores, dar-lhe-ia a possibilidade de reganhar, junto destes, poder negocial. A vitória do sim seria a legitimação democrática das cedências aos credores e o libertar-se do ónus da austeridade. Nesta agonia grega, que provavelmente acabará em tragédia para o povo grego, nem Tsipras/Varoufakis nem as instituições europeias sairão bem da fotografia.

*Professor do ISEG/ULisboa e Presidente do Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson – Correia da Serra    

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