Mão dos dirigentes da FIFA assinou cheque para abafar mão de Henry
Federação irlandesa revela ter recebido uma verba avultada para não contestar em tribunal o célebre França-Irlanda.
“Em Janeiro de 2010, a FIFA e a federação da Irlanda chegaram a acordo para pôr fim ao diferendo. A FIFA tinha avalizado um empréstimo de cinco milhões de dólares à FAI para a construção de um estádio na Irlanda. Nessa altura, a UEFA tinha desbloqueado verbas para o mesmo efeito”, revelou o organismo que gere o futebol mundial, através de um comunicado.
Horas antes, porém, John Delaney, presidente da FAI, avançara com outra tese, que não a do empréstimo, em declarações à RTE Radio 1: “Tínhamos chegado a um entendimento. Foi numa quinta-feira e na segunda-feira seguinte estava tudo assinado. Era um pagamento à nossa federação para que não avançássemos para a justiça”, reconheceu, invocando uma cláusula de confidencialidade para não confirmar o montante em causa.
Os termos do acordo estabeleciam que a FIFA seria reembolsada caso a Irlanda se apurasse para o Mundial de 2014, algo que não veio a confirmar-se e que levou os dirigentes a riscarem essa alínea do documento, no dia 31 de Dezembro desse ano.
Esta revelação surge no olho do furacão de corrupção que tem varrido a instância máxima do futebol. E embora não esteja no centro das investigações, é mais uma pista para se compreender de que forma funciona a FIFA. Recapitulemos: a França defrontou a Irlanda num jogo de qualificação para o Mundial de 2010 e garantiu o apuramento com um empate (1-1), a 19 de Novembro de 2009, em Paris, graças a um golo decisivo de William Gallas, que nasceu de um lance irregular — Thierry Henry dominou a bola com a mão após um livre e só depois assistiu o companheiro para a finalização.
A indignação dos responsáveis irlandeses cresceu nos dias seguintes ao encontro, especialmente depois de uma atitude de Joseph Blatter, presidente da FIFA, que consideraram desrespeitosa, no decorrer do fórum da Soccerex. “A forma como se comportou na tribuna, rindo-se e quase menosprezando a nossa intenção [de apresentar um protesto]... No dia em que assinámos o acordo disse-lhe o que pensava dele”, revelou Delaney.
O caso, de resto, agitou as águas do futebol — e não só — nas semanas que se seguiram ao jogo. A comissão de disciplina da FIFA optaria por não castigar Henry, argumentando que “nenhum texto jurídico permite sancionar um lance que escapou à equipa de arbitragem”, e a polémica estender-se-ia às instâncias políticas. O então primeiro-ministro irlandês reclamou mesmo a repetição da partida, enquanto o homólogo francês contra-atacou, defendendo que não competia a nenhum dos Governos imiscuírem-se nas regras do futebol.
Apesar de toda a pressão irlandesa e da assunção de culpa de Thierry Henry — “Estou desolado, porque eles mereciam verdadeiramente estar na África do Sul; a solução mais equilibrada seria repetir o jogo, mas a decisão não está sob a minha alçada” —, Blatter rejeitou sempre este cenário, limitando-se a admitir uma eventual “compensação moral”. Compensação, essa, que chegaria sob a forma de um cheque de cinco milhões de dólares. com AFP