Número de crianças e jovens apoiadas pela AMI triplicou nos últimos seis anos

A precariedade financeira é um dos principais motivos daqueles que procuram ajuda.

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Daniel Rocha/ Arquivo

O número de crianças e jovens apoiados em Portugal pela Assistência Médica Internacional (AMI) triplicou entre 2008 e 2014. Dos 1155 passou os 3886, segundo dados divulgados esta quarta-feira pela organização. Em 2008, as crianças até aos 16 anos representavam 15% da população apoiada nos 17 equipamentos sociais da AMI (7702) e em 2014 esta percentagem aumentou para 27% do total das pessoas ajudadas (14.393), adianta o Relatório de Actividades e Contas 2014 da AMI.

Além do "aumento significativo" no número de crianças apoiadas, a AMI verificou também uma subida da população jovem: Em 2008, apenas 30% tinham menos de 30 anos, percentagem que subiu para 47% em 2014, o que remete para "um perfil cada vez mais jovem" de quem procura a organização. Em média, a AMI registou 326 novos casos de pobreza por mês em 2014, ano em que 3916 pessoas procuraram pela primeira vez apoio.

A precariedade financeira (81%) e o desemprego (60%) foram os principais motivos que levaram à procura de ajuda, seguindo-se a doença (23%), os problemas familiares (18%) e os problemas relacionados com saúde mental e a falta de habitação/alojamento (7% cada). As mulheres entre os 30 e os 59 anos são quem mais procura este apoio. 

Segundo o relatório, a baixa escolaridade continua a ser uma característica dominante, sendo que 54% têm o 1º ou 2º ciclo e apenas 8,5% o ensino secundário. Ainda assim, há mais pessoas com habilitações ao nível do ensino médio/superior a procurar ajuda. Enquanto em 2008, estavam registadas 183 pessoas, em 2014 foram 253, das quais 164 tinham uma licenciatura ou uma habilitação superior (mestrado 11, doutoramento 1). Segundo o relatório, 69% da população beneficiária não tem qualquer formação profissional e 21% não tem rendimento formal.

Os recursos económicos de 69% da população provêm sobretudo de apoios sociais, como o Rendimento Social de Inserção (23%), pensões, reformas, subsídios e apoios institucionais (19% cada), e rendimentos de trabalho (17%) "precários e insuficientes". Da população apoiada, 29% têm filhos e dos que vivem sozinhos (21%), a maioria são homens (56%).

A maioria, cerca de 66%, mora em casa alugada e apenas 13% têm habitação própria, sendo que 381 pessoas não têm água canalizada ou têm de forma ilegal, 660 não têm luz ou têm ilegalmente. As despesas mensais com rendas ou amortizações de 2308 pessoas (16%) são inferiores a 100 euros, referem os dados, acrescentado que 684 pessoas relataram situações de endividamento por rendas em atraso ou crédito à habitação que não conseguem cumprir

Desde que abriu o primeiro Centro Porta Amiga em Portugal em 1994, a AMI já apoio 64.317 pessoas em situação de pobreza.

 As vítimas de violência doméstica

Quase 250 pessoas apoiadas, a grande maioria mulheres, relataram à AMI ter sido vítimas de violência doméstica. Cerca de 47% das mulheres que apresentaram queixa têm entre 30 e 49 anos, 31% eram divorciada e 27% eram casadas ou viviam em união de facto.

"O agressor é na maior parte dos casos o cônjuge/namorado (40%), recorrendo a agressões físicas (38%), a ofensas e insultos (6%)", adiantam os dados. A AMI verificou também 96 casos de violência de género, 99% mulheres, a maioria com idades entre os 30 e os 49 anos (62%), divorciada ou solteira (50%), e 17% encontravam-se em situação de sem-abrigo. Estas mulheres eram vítimas de agressões físicas (80%) e ofensas/insultos (12%). O apoios social e o alimentar foram os mais procurados. 

Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), a violência doméstica registou 22.959 participações em 2014. Dados do Observatório das Mulheres Assassinadas da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), baseados nos casos noticiados pela imprensa, acrescentam que 43 mulheres foram mortas em 2014 vítimas de violência doméstica. Só no primeiro trimestre deste ano, segundo a UMAR, já foram assassinadas nove mulheres (quatro em Janeiro, uma em Fevereiro e quatro em Março).

Os sem-abrigo

A AMI atendeu 1511 sem-abrigo no ano passado, dos quais 515 pela primeira vez. Existiu, assim, uma descida de 10% no número de casos apoiados face a 2013. Desde 1999 a organização já apoiou 10.405 pessoas, numa média de 650 novos casos por ano.

Em 2014, a AMI registou uma descida de 6% no número de novos casos atendidos (546 em 2013 e 515 em 2014) de pessoas sem-abrigo que estão em centros de acolhimento de emergência ou temporário, que vivem em quartos alugados, em barracas ou em casas sobrelotadas.

A maioria destas pessoas (76%) são homens, com idades entre os 40 e os 59 anos (52%), seguidos dos 30 aos 39 anos (18%). A grande maioria (72%) encontra-se sozinha (solteira, divorciada ou viúva) e 13% é casada ou vive em união de facto. Segundo o documento, a maior parte da população sem-abrigo que recorreu à ajuda da AMI refere encontrar-se nesta situação há mais de 4 anos (22%) ou entre 1 e 2 anos (11%).

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