FN não vingou nem no Sudeste mais à direita, nem no Norte mais social

Diferenças na retórica do partido dos Le Pen têm-lhe permitido aumentar o eleitorado.

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Marion Maréchal-Le Pen BERTRAND LANGLOIS/AFP
Marine Le Pen
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Marine Le Pen Miguel Medina/AFP

Marion Maréchal-Le Pen, a loura neta de Jean-Marie Le Pen, esperava ser uma das protagonistas da noite. Vaucluse, o departamento do Sudeste francês pelo qual é deputada, era um dos departamentos que a Frente Nacional (FN) mais esperanças tinha de conquistar, pois estas terras provençais foram dos primeiros territórios a renderem-se ao discurso nacionalista do partido. Não conseguiu uma vitória, mas criou um conselho geral ingovernável, onde a palavra da FN terá de ser levada em conta.

“Não baixamos os braços quando se trata de defender o nosso território e nosso país”, afirmou combativa, a mais jovem do clã Le Pen, dada como próxima da linha mais à direita do avô – “Daddy”, como ela lhe chama – que é a que tem vingado nesta zona de França. É no Sul que que se concentram muitos franceses que foram forçados a regressar da Argélia após a independência. Jean-Marie Le Pen, que combateu na ex-colónia, e esteve ligado aos meios anti-independência, tem aí o seu meio natural.

“Houve três etapas na construção eleitoral da FN. A primeira foi a do Sudeste, com a direita radicalizada e o voto pé-negro [a expressão que designa os ‘retornados’ da Argélia], disse ao “Le Monde” o investigador Pascal Perrineau, do Instituto de Ciências Políticas de Paris. Por isso, tradicionalmente, os eleitores da FN do Sudeste são mais à direita, e o Departamento de Vaucluse era apontando como o que o partido conquistaria mais facilmente. Mas houve mobilização dos eleitores da direita tradicional e até do PS suficiente para impedir a maioria da FN.

No Norte e no Leste, os novos territórios que se deixaram cativar pelo discurso mais social de Marine Le Pen, a tia de Marion e líder da FN, o partido avançou entre os eleitores que, nas palavras de Perrineau, usam o seu voto “em protesto contra a sociedade pós-industrial”, que encerrou as grandes fábricas e as minas, e os deixou sem empregos. Muitos vivem “uma ressurgência do nacionalismo ferido”, culpando a União Europeia, a “mundialização”, a imigração, por essa vida que deixou de ter horizontes, e seguem o discurso da Frente Nacional.

“Passámos de Jean Jaurès” a Jean-Marie”, afirmou ao “Le Monde” o dono de uma papelaria em Libercourt, no Departamento do Norte, evocando o nome de um famoso líder socialista, assassinado no início da I Guerra Mundial e o disparar da popularidade da FN naquela zona, pela qual Marine Le Pen passou a candidatar-se. Ali, tal como no Leste do país, o discurso do partido de extrema-direita “insiste na ameaça da ‘mundialização’, com um vocabulário socializante que poderia ter sido usado por George Marchais [dirigente histórico do Partido Comunista Francês, de 1972 a 1994]”, explicou ao “Libération” a investigadora da Universidade de Stanford (EUA) Cécile Alduy.

A diferença de discurso entre Norte e Sul – onde continua influenciado pela descolonização, e procura dirigir-se aos pequenos comerciantes e a centrar-se na imigração – tem permitido à FN adaptar-se e crescer. No Centro e no Oeste, tem também feito conquistas, aproveitando-se da crise rural e das zonas intermédias, diz Pascal Perrineau, onde “a crise rural e das zonas intermédias alimenta o voto frontista de uma população que perdeu as suas referências”.

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