Privatizações travadas nos portos e na energia

Em 2011, a troika exigiu receitas com privatizações de 50 mil milhões de euros até 2015. O novo Governo dá a machadada final neste objectivo.

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Venda do Porto de Pireus foi suspensa
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Venda do Porto de Pireus foi suspensa REUTERS/Alkis Konstantinidis

A realização de privatizações em larga escala que ajudassem a amortizar parte da dívida grega foi, desde o início, uma das exigências da troika à Grécia. Ao fim de três anos de cumprimento bastante limitado do plano de vendas de activos, o Governo liderado pelo Syriza travou por completo o processo.

Nas suas primeiras declarações públicas depois da tomada de posse, os dois responsáveis governamentais mais directamente ligados à pasta da energia e dos portos confirmaram que as alienações de participações do Estado nesses sectores que estavam a ser preparadas pelo anterior executivo irão ser imediatamente suspensas.

Primeiro, foi o novo ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, a anunciar que a venda do capital que o Estado grego tem na companhia eléctrica PPC irá ser travada. A PPC tem actualmente uma posição dominante no mercado de energia eléctrica do país. O anterior Governo, liderado por Antonis Samaras, planeava dividir a empresa em duas partes e depois proceder à alienação do capital público. O Estado tem actualmente nas suas mãos uma participação de 51% na empresa. As acções da PPC caíram 13% com a notícia.

Logo a seguir, Thodoris Dritsas, o vice ministro com a tutela do sector portuário, afirmou também que o processo de venda de 67% do Porto de Pireus será suspenso.

Esta privatização já estava em fase avançada, tendo sido escolhidos cinco candidatos à compra, com o consórcio chinês Cosco, que já tinha garantido concessões no porto, a ser visto como o claro favorito. “o negócio com a Cosco vai ser reavaliado para benefício do povo grego”, afirmou o vice-ministro.

O primeiro ministro Alexis Tsipras fez questão de se encontrar com o embaixador da China, o que foi visto também como um sinal de que o Governo grego não pretende criar com este processo qualquer motivo de conflito com o gigante asiático, uma potencial fonte de financiamento para a economia.

Esta travagem nos processos de privatização em curso será mais um motivo de descontentamento para a troika, que desde que chegou à Grécia, tem insistido que o Estado se desembarace das sua participações em empresas.

Em 2011, o programa assinado entre Atenas e a troika previa receitas com privatizações de 50 mil milhões de euros até ao final de 2015. Esse valor, no meio de um colapso da economia grega, revelou-se extremamente exagerado. Na última reavaliação deste plano, o total de receitas antecipadas com as privatizações entre 2011 e 2015 baixou para apenas 8700 milhões de euros. Um valor que terá ainda de ser revisto em baixa, depois da tomada de posse do novo Governo.

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