“Sei que fiz bem o meu trabalho”, diz polícia que matou Michael Brown

Darren Wilson afirma que teria actuado da mesma maneira caso fosse um branco a atacá-lo e que disparou em legítima defesa.

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"Estou de consciência tranquila", diz o agente de 28 anos Reuters

Foi por temer pela sua vida que o agente Darren Wilson disparou sobre Michael Brown, um jovem de 18 anos. Numa entrevista emitida nesta quarta-feira, Wilson não se diz arrependido e garante que não teria agido de forma diferente se estivesse perante um branco.

“A razão pela qual estou de consciência tranquila é por saber que fiz bem o meu trabalho”, disse o agente de 28 anos.

Darren Wilson veio a público pela primeira vez desde o incidente de Ferguson, durante uma entrevista nesta quarta-feira com o jornalista George Stephanopoulos no canal ABC, durante a qual recapitulou a sua versão dos acontecimentos de 9 de Agosto – a mesma que revelou ao grande júri que decidiu não o acusar pela morte de Brown.

Tudo começou com um motivo absolutamente normal. O agente que está há seis anos na polícia de Ferguson – nos subúrbios de St. Louis (Missouri) – seguia sozinho na sua viatura quando passou por Michael Brown e por um amigo, Dorian Johnson. Os dois jovens circulavam “em fila [sobre] a dupla linha amarela” no meio da estrada, e Wilson disse-lhes para irem para o passeio.

Brown dirigiu-se a Wilson, utilizando “algumas palavras explícitas”. Foi então que o polícia notou que o jovem levava consigo uma caixa de cigarrilhas e que Brown e Johnson correspondiam à descrição de dois suspeitos de terem assaltado uma loja de conveniência horas antes. “Pedi reforços através do rádio”, disse Wilson.

O agente tentou abandonar o veículo, mas foi impedido por Brown, que lhe empurrou a porta. “Nunca tinha ficado preso no meu carro”, contou Wilson, para quem o jovem estava a tentar intimidá-lo. “De repente, os murros começaram a chover... Ele mandou-me o primeiro e acertou-me no lado esquerdo da cara.”

É nessa altura que Wilson tenta alcançar a sua pistola, ameaçando Brown de que iria disparar se ele não o deixasse sair do carro. O adolescente duvidou da coragem do agente, diz Wilson. Os dois lutaram pela arma e, depois de duas tentativas, Wilson dispara pela primeira vez.

“Ele tornou-se ainda mais agressivo”, conta Wilson, que entretanto já tinha conseguido abandonar a viatura e perseguia Brown. Nesse momento, o agente diz que viu o jovem com a mão perto da cintura e receou que ele estivesse armado.

Quando Brown tenta atacar Wilson, o agente decide disparar uma série de vezes e percebe que atinge o suspeito. Porém, o jovem não recua.

“Depois de eu ter disparado a segunda série de tiros, ele está a dois ou três metros. E então ele começa a inclinar-se para a frente, como se fosse derrubar-me. Dois ou três metros é perto e tudo o que eu conseguia ver era a cabeça dele”, conta. “Olhei pela mira da minha pistola e disparei.”

A decisão do júri de não levar Wilson a julgamento despertou uma onda de protestos com epicentro em Ferguson, mas que se alastrou a 177 cidades norte-americanas, de acordo com a CNN. A segunda noite de manifestações no subúrbio de St. Louis foi relativamente mais calma do que a anterior, em que se registaram vários incêndios, lojas vandalizadas e tiros disparados. Ainda assim, durante a noite de terça-feira foram detidas 44 pessoas, segundo informações da polícia reveladas na manhã desta quarta-feira.

O governador do Missouri, Jay Nixon, autorizou o envio de uma força de 2200 efectivos da Guarda Nacional para que o cenário caótico de terça-feira não se repetisse. Várias ruas foram igualmente fechadas ao trânsito.

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