Estrelas da advocacia defendem altos quadros do Estado suspeitos de corrupção nos vistos gold
Advogados estiveram nos processos Face Oculta, BPP, Portucale, Casa Pia, Operação Furação Bragaparques e secretas. Procuradora que lidera investigação investigou caso BCP e a ex-ministra da Educação. Arguidos são este sábado ouvidos pelo juiz que interrogou ex-presidente do BES.
Esperava-se para esta sexta-feira o início dos interrogatórios a cargo do juiz Carlos Alexandre e do juiz auxiliar João Filipe Bártolo, mas os detidos foram apenas identificados ao início da noite. Só este sábado começarão a ser inquiridos.
O director nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Manuel Jarmela Palos, é defendido por João Medeiros, da sociedade de advogados PLMJ, de que é sócio José Miguel Júdice. Medeiros é advogado de Jorge Silva Carvalho no chamado caso das secretas. O ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa é acusado de violação do segredo de Estado, corrupção e abuso de poder. O advogado defende ainda, em múltiplos processos, João Rendeiro, fundador do Banco Privado Português.
Já Rui Patrício é advogado do presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, António Figueiredo, também detido, e voltou a aparecer nas luzes da ribalta judiciária no processo Face Oculta. Nele era advogado de José Penedos, o ex-presidente da Rede Eléctrica Nacional condenado a cinco anos de prisão efectiva. Patrício está em quase todos os julgamentos mediáticos. Esteve também no da Operação Furacão, onde foi advogado de duas dezenas de arguidos, e no caso Bragaparques, onde defendeu a ex-vereadora da Câmara de Lisboa Eduarda Napoleão. Entre Maio de 2009 e Novembro de 2011 foi também membro do Conselho Superior da Magistratura, órgão de gestão e disciplina dos juízes.
A secretária-geral do Ministério da Justiça, Maria Antónia Anes, tem como advogada Maria João Costa, que defendeu também o médico Ferreira Dinis, condenado a sete anos de prisão efectiva no caso Casa Pia. É ainda advogada de Rui Mateus Pereira. O processo contra o presidente do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça está em fase de recurso depois de ter sido absolvido de participação económica em negócio e falsificação de documentos enquanto director da Cultura na Câmara de Lisboa.
Carlos Pinto Abreu foi outro dos advogados que nesta sexta-feira cruzou também os corredores do Tribunal Central de Instrução Criminal. Questionado pelos jornalistas, não quis tão pouco identificar o seu cliente no processo. O jurista foi advogado de Isaltino Morais, do ex-presidente dos CTT Carlos Horta e Costa, absolvido do crime de gestão danosa, e do ex-director-geral das Florestas no caso Portucale, tendo chegado a representar os pais de Madeleine McCann, a menina inglesa desaparecida no Algarve.
O processo conta ainda à cabeça da investigação com uma procuradora com vasta experiência e com provas dadas de sucesso contra crimes financeiros complexos. Susana Figueiredo liderou desde o início, em meados de Janeiro deste ano, a investigação à corrupção aos vistos gold. A magistrada faz parte de um grupo de procuradores que fez escola no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, dirigido por Maria José Morgado. Esteve vários anos na 9.ª secção que investiga a criminalidade económico-financeira. Investigou ainda o caso BCP com ligação a sociedades offshore e a ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, condenada por prevaricação de titular de cargo político. Passou para o Departamento Central de Investigação e Acção Penal este ano.
Este sábado, os detidos enfrentam o interrogatório de Carlos Alexandre, um juiz temido por muitos e admirado por outros tantos no combate ao crime. Foi ele quem recentemente interrogou o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado.