Viva Iggy Pop!

Iggy Pop, tal como David Bowie, é uma criatura criadora que começou por se afastar dela própria.

A grande glória dos programas de rádio de Iggy Pop para a BBC é o facto de serem gravados nos estúdios da BBC. Ele dirige-se aos ouvintes britânicos, explicando coisas americanas e pedindo explicações sobre as coisas inglesas, escocesas e galesas.

Em Portugal podemos ouvir de graça o programa dele de duas horas com canções sobre animais. Tal como Bob Dylan nos melhores programas de rádio de todos os tempos, Iggy Pop é um generoso sábio e amante da música popular. Tal como Dylan não fala apenas como um fã: fala como Iggy Pop.

Não pode haver dois radialistas mais improváveis. Mas há: Bob Dylan e Iggy Pop. Dylan inventou a estação de rádio e o diner onde ia comer um hamburger depois da emissão. Até inventou os anúncios. É um génio.

Iggy Pop não é um génio mas é um intérprete genial: é aquele que nunca sai da pele. Dylan está sempre a fingir, com soberbo êxito, que é um crooner ou um rocker ou um cantor folk ou country ou a mostrar, com verdade, que é o maior e mais imaginoso compositor do nosso tempo.

Iggy Pop, tal como David Bowie, é uma criatura criadora que começou por se afastar dela própria. Iggy Pop, ao contrário de Dylan, conta (e canta) histórias da vida dele. É como se ele fosse entrevistado por ele próprio. É sumptuoso.

Depois de outra obra-prima (Sue (Or in a Season of Crime)), só falta Bowie dar-nos os programas de rádio que queremos e merecemos.

Sonhemos, já agora, com Leonard Cohen, Joni Mitchell, Neil Young e Stevie Wonder.

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