Morreu criança com ébola no Mali

Há 43 pessoas que estiveram em contacto com a criança a serem seguidas. OMS quer enviar 200 mil doses de vacinas contra o vírus até Junho de 2015.

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A OMS apela à despistagem de doentes que saiam dos países mais afectados REUTERS/2Tango
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Controlo de temperatura na fronteira entre o Mali e a Guiné-Conacri Joe Penney/Reuters

A OMS anunciou ainda que vai enviar para África cerca de 200 mil vacinas contra o ébola até ao final de Junho de 2015, para combater uma epidemia que já atingiu quase 10 mil pessoas, matando 4877.

Além da Guiné-Conacri, os países mais atingidos pela epidemia são a Libéria e a Serra Leoa. Os Estados Unidos e a Espanha também foram tocados pela doença. Nos EUA, soube-se na quinta-feira que o vírus chegou a Nova Iorque. Craig Spencer, médico da organização Médicos sem Fronteiras, que esteve a trabalhar na Libéria, contraiu a doença.

O pessoal médico tem sido especialmente atingido, pelo menos 443 profissionais adoeceram com ébola e 244 já morreram, deixando os três países da África Ocidental, com sistemas de saúde já por si frágeis, ainda mais devastados. Há apenas um quarto das camas de hospital necessárias e são precisos mil médicos estrangeiros e 20 mil locais para os 50 centros de ébola daqueles países, segundo a OMS.    

Aliás, tudo indica que serão estes trabalhadores os primeiros a receberem doses de uma de duas vacinas diferentes contra o ébola, uma da GlaxoSmithKline e outra da NewLink Genetics, cujo desenvolvimento está em marcha. As vacinas já estão a ser testadas em pessoas saudáveis, para garantir que são seguras e que produzem uma resposta imunitária. A OMS está empenhada em acelerar este processo e reuniu-se nesta sexta-feira com as autoridades de saúde, os líderes da indústria, os reguladores de medicamentos, os financiadores e ainda com responsáveis dos países afectados.

“As empresas farmacêuticas a desenvolver as vacinas comprometeram-se a acelerar a produção de milhões de doses para 2015, com algumas centenas de milhares prontas para o fim do primeiro semestre do próximo ano”, comunicou a organização. “A vacinação não é uma solução milagrosa, mas quando as vacinas estiverem prontas, poderão ser uma boa parte daquilo que vai fazer com que a maré desta epidemia se inverta”, disse Marie-Paule Kieny, citada pela agência Reuters, numa conferência de imprensa em Genebra depois da reunião. Segundo a responsável da OMS, o número de doses prontas será cerca de 200 mil, mas poderão vir a ser mais ou menos.

O Mali é um dos países onde estão a ser realizados os primeiros ensaios clínicos da vacina da GlaxoSmithKline. Nesta sexta-feira, ficou-se a saber mais sobre a rapariga de dois anos com ébola. A rapariga era filha de uma mulher do Mali e de um homem da Guiné-Conacri que morreu recentemente, segundo uma fonte que próxima do processo, citada pela agência AFP.

A 19 de Outubro, a criança viajou para o Mali vinda da Guiné-Conacri. O Nordeste da Guiné-Conacri faz fronteira com o Sudoeste do Mali. A criança foi para Bamaco, capital do Mali, e daí seguiu num carro para Kayes, a 600 quilómetros a noroeste de Bamaco. A Reuters avançou que a menina viajou com a avó. Na quinta-feira, a criança entrou no hospital público de Kayes, onde lhe foi feito um teste ao ébola que deu positivo, explicou Ousmane Koné, ministro da Saúde do Mali.

O “seu estado está a melhorar graças aos cuidados dados numa fase precoce”, explicou na sexta-feira o ministro, citado pela AFP. Mas ao final do dia as autoridades de saúde locais anunciaram que a criança morreu por volta das 17h (hora de Lisboa), segundo a Reuters.

O vírus do ébola é transmitido quando uma pessoa saudável entra em contacto com sangue, secreções, órgãos ou outros fluídos corporais de pessoas infectadas. A doença tem um período de incubação que pode ir dos dois aos 21 dias. Só depois de aparecerem os sintomas é que alguém pode infectar terceiros.

As autoridades do Mali estão a monitorizar 43 pessoas que estiveram em contacto com a criança, dez das quais são profissionais de saúde. “O ébola não é mortal em todos os casos”, acrescentou o ministro, que pediu à população para “manter-se calma, não ceder ao pânico”, e “observar as medidas de saúde”.

Apesar dos conselhos do ministro, esta era uma situação temida: alguém com ébola entrar para um país africano vizinho. A Nigéria, em Julho, e o Senegal, em Agosto, viveram este problema quando pessoas doentes entraram naqueles países. No Senegal, não houve transmissões dentro do país, mas no caso da Nigéria houve 20 doentes e oito mortos. Os dois países conseguiram, no entanto, eliminar a doença.

Na quinta-feira, um comunicado da OMS divulgado depois da reunião do comité de emergência para o ébola, pedia à Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa, os três países “com transmissão intensa do Ébola”, para “manter e reforçar” o controlo das pessoas do país para despistar doentes. “A despistagem à saída deve consistir, pelo menos, num questionário, na medição de temperatura e, se houver febre, numa avaliação do risco de esta tenha sido causada pelo ébola”, segundo a OMS. 

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