Cigarro electrónico não serve para deixar de fumar, diz especialista

Presidente do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão afirma que ideia tem "falhado redondamente".

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Governo está a preparar regras para o cigarro electrónico Joe Raedle/Getty Images/AFP (arquivo)

A ideia de que o cigarro electrónico pode ajudar a deixar de fumar tem “falhado redondamente”, afirma o presidente do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão, Fernando Barata.

Os médicos, diz Fernando Barata, têm constatado que os fumadores usam os cigarros electrónicos por “um ou dois meses”, voltando depois ao tabaco tradicional. “A ideia inicial de ir do cigarro tradicional para o electrónico para deixar de fumar não tem acontecido na prática nos nossos doentes. Essa ideia, que inicialmente podia ser muito boa, tem falhado redondamente”, disse o médico à agência Lusa, no dia em que começa o Congresso Português do Cancro do Pulmão, em Lisboa.

Muitos defendem que o cigarro electrónico é uma alternativa benéfica para os fumadores, reduzindo a sua exposição aos produtos que resultam da combustão do tabaco. Os chamados e-cigarros apenas vaporizam a nicotina. Em Maio passado, 53 especialistas em saúde pública assinaram uma carta apelando à Organização Mundial de Saúde para que “liberte o potencial” dos cigarros electrónicos, que poderão salvar “centenas de milhões de vidas”.

Mas a OMS está preocupada e lançou, em Agosto passado, uma série de recomendações sobre o cigarro electrónico. Entre elas, está a proibição de venda a menores, a interdição do seu uso em espaços fechados e limitações à publicidade. A OMS também chama a atenção para o facto de ainda não conhecerem bem os efeitos a longo prazo de aromatizantes e outros químicos que fazem parte do líquido vaporizado pelo cigarro electrónico.

Outra preocupação manifestada pela OMS é a de que o cigarro electrónico estimule jovens a consumir tabaco. “Mesmo em grupos mais jovens que começam a fumar cigarro electrónico, o que vemos é depois uma passagem rápida para o cigarro tradicional", concorda Fernando Barata.

Esta relação é considerada como “especulação” pela Associação Portuguesa de Empresas de Cigarros Electrónicos (APECE), que representa os importadores e vendedores do produto no país. A APECE concorda, no entanto, com a proibição de venda de e-cigarros a menores, mas discorda da interdição do seu uso em espaços fechados.

O Governo está a preparar normas para os cigarros electrónicos, baseadas numa directiva europeia de Abril passado. A directiva proíbe qualquer tipo de publicidade aos e-cigarros, aplicando-se apenas àqueles que contêm nicotina. A legislação europeia não interdita, porém, a venda a menores, nem a utilização em espaços fechados, deixando esta opção aos Estados-membros.

O tabaco é a principal causa para os cerca de 4000 novos casos de cancro de pulmão por ano em Portugal. Em média, há 11 novos casos por dia.

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