Europa é afectada pela guerra comercial de forma desigual

Comissão Europeia já anunciou ajuda para produtores de fruta e vegetais.

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Os lacticínios e os produtos hortofrutícolas europeus são afectados pela retaliação comercial russa Nuno Ferreira Santos

O mercado russo representa cerca de 10% das exportações agro-alimentares da UE, o correspondente a cerca de 11 mil milhões de euros. Olhando para as contas do ano passado, a Lituânia é, em termos absolutos, dos países mais afectado pelas sanções. Os produtos que entram nas categorias banidas por Moscovo representaram vendas de 927 milhões de euros. Segue-se a Polónia, que tinha na Rússia um importante mercado para os produtores de maçã, e que fez exportações totais no valor de 841 milhões de euros. 

Em Portugal, onde apenas 70 empresas do sector estão autorizadas a exportar para a Rússia, as consequências serão residuais. A Rússia representou 1% das exportações agro-alimentares ao longo do ano passado, com um valor em torno dos 50 milhões de euros. Era, contudo, um país com o qual os contactos comerciais se estavam a intensificar. Ainda em Fevereiro, a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, tinha estado numa feira de produtos agro-alimentares em Moscovo. 

A suspensão das importações tem também um efeito em cadeia. Quando um país tem uma grande dependência do mercado russo em alguns sectores, o fecho das portas significa uma abundância de produto no mercado europeu, com um aumento da concorrência entre Estados-membros.

O anúncio das sanções, no início do mês, levou a que o comissário europeu da Agricultura, o romeno Dacian Ciolos, interrompesse as férias para analisar o problema. Esta semana acabou por anunciar uma ajuda de 125 milhões de euros, proveniente de um fundo de apoio de emergência que totaliza 420 milhões e que está previsto na nova Política Agrícola Comum. Está agora a ser usado pela primeira vez.

O montante será utilizado até Novembro para comprar frutas e vegetais excedentários aos agricultores que não estejam a conseguir escoar a produção para mercados alternativos e que não a possam armazenar. O objectivo é fazer com que os preços de mercado não afundem pelo excesso de oferta. 

Os primeiros beneficiados serão os produtores de pêssegos e nectarinas, a quem serão comprados 10% da produção. A medida estende-se também às uvas, pepinos, frutos vermelhos, pêras, maçãs e cogumelos, entre outros. Os alimentos serão depois entregues a escolas, hospitais e prisões.

Alguns produtores de fruta na Europa terão mesmo tentado contornar o embargo, fazendo os produtos passar pela Bielorrússia e omitindo ou falseando o local de origem. Esta semana, o jornal moscovita The Moscow Times noticiou que as autoridades russas tinham detectado casos em que produtos identificados como sendo da Turquia, Macedónia e de países africanos vinham, na verdade, da Polónia, Eslovénia, Holanda e Lituânia.

Contrariamente ao que aconteceu com a carne (a Rússia comprará carne europeia de animais abatidos na Bielorrússia), as autoridades ameaçaram impor também restrições à compra de fruta e vegetais com origem neste país.
Face ao anúncio de ajuda da Comissão Europeia, associações e empresas do sector dos lacticínios reclamaram também auxílios. 

Já os EUA, por seu lado, praticamente não vão sentir o impacto das medidas de Moscovo. O mercado russo representava apenas 1% das vendas internacionais do sector agro-alimentar americano.
 

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