Medvedev: reconhecer novo poder na Ucrânia é uma "aberração"

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Dmitri Medvedev teve palavras duras para a Ucrânia e o Ocidente NATALIA KOLESNIKOVA/AFP

Moscovo já tinha convocado o seu embaixador em Kiev “para consultas”, pouco depois de o Presidente interino da Ucrânia ter anunciado na televisão que as novas autoridades querem retomar o caminho de aproximação à União Europeia, interrompido em Novembro por Viktor Ianukovich, agora destituído.

Era a primeira resposta ao afastamento, no sábado, de Ianukovich, com quem o Presidente russo, Vladimir Putin, assinou em Dezembro um acordo de cooperação económica que canalizaria para os cofres ucranianos 15 mil milhões de dólares e que está agora seriamente em dúvida.

Medvedev teve palavras amargas para a atitude do Ocidente perante o desenrolar da crise ucraniana. "Alguns dos nossos parceiros ocidentais consideram que é legítimo [o novo poder]. Não sei que Constituição andaram eles a ler, mas parece-me uma aberração considerar legítimo o que aconteceu como resultado de uma revolta", afirmou.

De Moscovo chegou ainda o aviso de que uma aproximação da Ucrânia à União Europeia irá ter como resposta o aumento das taxas aduaneiras para as exportações de produtos ucranianos. "Dizemos à Ucrânia: é claro que vocês têm o direito a escolher a vossa via", afirmou o ministro da Economia russo, Alexei Ouliukaev, num artigo de opinião no diário alemão Handelsblatt, citado pela AFP.

O responsável fazia referência à possível assinatura de um acordo comercial da Ucrânia com a UE, que já estava prevista para Novembro. Foi a recusa de Ianukovich em avançar que deu início aos protestos contra a sua governação. "[Caso o compromisso se estabeleça], ver-nos-emos na obrigação de aumentar os direitos aduaneiros das importações", acrescentou Ouliukaev.

O ministro deixou claro que a assinatura de "um [acordo] não é compatível com o outro". Afirmando ser "claro" que a Ucrânia irá enfrentar "uma recessão", Ouliukaev sublinhou que "muitos fundos de investimento vão retirar o seu dinheiro da Ucrânia, e a maior parte imediatamente depois da Rússia".

Também o chefe da diplomacia do Kremlin se insurgiu contra a tomada de decisões que "visam sobretudo lesar os direitos humanitários dos russos". Serguei Lavrov fazia referência à anulação pelo Parlamento ucraniano de uma lei que concedia ao russo o estatuto de segunda língua oficial das regiões do país cuja população de origem russa é superior a 10%.

A intervenção dos países ocidentais na crise ucraniana também mereceu críticas do ministro russo, que os acusou de serem movidos pelo "desejo de agir baseado num interesse próprio geopolítico". "Não há condenação das acções criminosas dos extremistas, incluindo manifestações de neonazismo e anti-semitismo. Na verdade, estão a ser encorajados", notou Lavrov, citado pelo Russia Today.

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