Um euro, dez ou 100 ajudam a recuperar o Palácio do Conde do Bolhão

ACE/Teatro do Bolhão lançou campanha na Internet de angariação de fundos para recuperar a escadaria monumental do edifício classificado, que a Câmara do Porto lhe cedeu por 50 anos. Mecenas têm ajudado na reabilitação das salas.

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A Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE)/Teatro do Bolhão lançou uma campanha de recolha de apoios para recuperar parte do interior do Palácio do Conde do Bolhão, no Porto. A iniciativa nasceu há cerca de um mês e junta-se à busca de mecenas que a companhia tem em curso. O auditório que está a ser ultimado nas traseiras do edifício classificado como Monumento de Interesse Público vai ser inaugurado em Setembro.

O palácio passa despercebido a quem passa na Rua da Formosa, mas mal se transpõe a grande porta de acesso, saltam à vista os vestígios de quando a residência de António Alves de Sousa Guimarães, barão e, posteriormente, conde do Bolhão, era o local mais procurado para bailes e festas entre a burguesia do século XIX. Pedro Aparício, da direcção da ACE/Teatro do Bolhão aponta as madeiras e tectos em estuque, as pinturas decorativas, as paredes revestidas a seda e a escadaria monumental, que levou a companhia e escola artística a lançar uma campanha de angariação de fundos na internet.

A iniciativa Degrau a Degrau está aberta a contributos a partir de um euro e promete uma recompensa à medida de cada apoio. Quem der um euro verá o nome inscrito no “painel de agradecimento no ‘Átrio dos Patronos e dos Mecenas’”, mas quem doar dez euros já terá direito a ver o seu nome “desenhado nos degraus colectivos”. O contributo de cem euros  será assinalado com a inscrição do nome nos degraus colectivos e a oferta de um cartão de amigo do Teatro do Bolhão, com acesso aos espectáculos da companhia durante um ano.

Comprar um degrau fica por 500 euros e quem o fizer terá não só o nome inscrito no respectivo degrau como um cartão de amigo com acesso gratuito a cinco anos de espectáculos. Mas, a ACE/Teatro do Bolhão acredita que haverá quem queira dar mais e se a generosidade chegar aos dez mil euros, o benemérito pode preferir tornar-se o mecenas exclusivo de uma das salas do palácio, que passará a ostentar o seu nome.

A actividade de mecenato já está em curso no Palácio do Conde do Bolhão e permitiu avançar com a recuperação de três salas no 1.º piso do edifício. O Salão Nobre, que deverá receber um pequeno auditório com 50 lugares, já só aguarda pela pintura final das paredes e uma intervenção no soalho. A reabilitação, a rondar os 27.500 euros, foi financiada pelo empresário António Oliveira.

Ao lado, foi a Solverde que garantiu os 15 mil euros necessários à recuperação da antiga Sala de Fumo, e que funcionará no futuro como a secretaria da escola e, no mesmo piso, a Vicri garantiu que a Sala D. Maria, com as suas paredes revestidas a seda, voltaria a ficar como nova. A empresa de criação de moda e acessórios colaborou com os 28 mil euros que eram essenciais para recuperar o espaço, incluindo a reprodução, em Itália, da seda das paredes, que hoje cai em farrapos por toda a sala.

Na página criada para divulgar o Degrau a Degrau (www.ace-tb.com/degrauadegrau), a ACE/Teatro do Bolhão enumera ainda outros espaços do palácio que aguardam por um mecenas, bem como os respectivos custos de reabilitar cada um deles. Há um quarto cujo restauro fica por dez mil euros e a capela do edifício não ficará em bom estado por menos de 22 mil euros. A sala que aparenta estar em pior condições, com um enorme buraco no tecto a prová-lo, é a de jantar, e o seu restauro fica por 21 mil euros.

Da lista de todos os espaços para os quais a ACE/Teatro do Bolhão pede apoio, a escadaria monumental, com 67 degraus, é aquele cujo custo de recuperação é mais elevado – 35 mil euros. E foi este factor, associado à área em questão - “é fácil dar o nome de um mecenas a uma sala, mas é mais complicado fazê-lo com uma escadaria”, diz Pedro Aparício - que levou a direcção da ACE/Teatro do Bolhão a apelar ao apoio de todos os cidadãos.

Na página da internet da Degrau a Degrau, o director da companhia, António Capelo, explica que a complexidade do espaço, com a escadaria monumental, a pintura mural que reveste uma área de 750 m2 e que “é de carácter decorativo, com motivos marmoreados, imitando lajes de mármore”, além do “reboco [que] recria um trabalho de cantaria” no piso principal tornam os custos demasiado elevados para a ACE/Teatro do Bolhão. “Contamos com a ajuda dos nossos amigos para, degrau a degrau, superarmos este desafio alcançando a verba que nos permita concluir o restauro”, conclui.

Pedro Aparício diz que a reacção das pessoas a este apelo foi “surpreendente”. “Estava bastante céptico, mas temos recebido todo o tipo de apoios. A maior parte das pessoas dá dez euros, mas também há quem esteja a organizar-se para comprar um degrau por 500 euros, como o café Piolho ou O Porto A Pé [um grupo que faz percursos pela cidade, orientado por Germano Silva]”, explica.

Desde 23 de Janeiro que 86 pessoas já contribuíram para o Degrau a Degrau, depositando na conta da iniciativa mais de 2200 euros. Muito longe dos 35 mil euros necessários, mas a ACE/Teatro do Bolhão está confiante no mote que marca o início da página online – “A descer todos os santos ajudam. A subir, todos os nossos amigos.” – e até brincam com o valor dos donativos. Foi criada uma categoria para contributos de 100 mil euros, mas à frente, na recompensa correspondente a tanta generosidade, a companhia escreveu, irónica: “Calma que não é preciso tanto.”

DomusSocial reabilita as fachadas
O Palácio do Conde do Bolhão é propriedade da Câmara do Porto, mas em 2001 foi cedida por 50 anos à ACE/Teatro do Bolhão. A construção do auditório, com 184 lugares, nas traseiras do edifício, onde já existiu uma litografia, foi co-financiada pelos fundos comunitários, bem como a intervenção em partes do palácio, que vai receber salas de aula e de ensaio da academia. Mas a verba não chegava para reabilitar completamente o palácio, pelo que a companhia conta com o mecenato e o apoio dos cidadãos. A empresa municipal DomusSocial vai reabilitar as fachadas do palácio, numa intervenção que deverá estar concluída em Junho. Em Setembro, garante Pedro Aparício, dar-se-á a inauguração oficial do espaço. “Esteja como estiver”, diz.

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