Relvas, recebido com protestos em conferência da TVI, foi-se embora sem discursar

Estudantes e activistas pedem demissão do ministro, em conferência em Lisboa. Governo diz que "nunca se deixará condicionar por acções de natureza semelhante".

No auditório onde Miguel Relvas deveria encerrar a conferência sobre o futuro do jornalismo, organizada pela TVI para assinalar os 20 anos da estação, cerca de uma centena de alunos levantou-se assim que o ministro entrou na sala e fez um barulho ensurdecedor, empunhando cartazes e uma enorme faixa que não se tinham ainda visto. “Bolsas sim, propinas não! Este Governo não tem educação!”, gritou-se repetidamente. Quando os gritos acalmaram, ouviu-se uma pergunta: “Vieste às aulas hoje?”.

O pivot da TVI Pedro Pinto, que moderava um debate, apelou à calma e pediu para que a assistência deixasse a administradora da TVI Rosa Cullell encerrar a conferência. Quando Miguel Relvas subiu ao palco para falar, o ruído ensurdecedor voltou. O ministro esperou uns minutos, de sorriso aberto no rosto, mas depois desistiu. Desceu do palco, rodeado por seguranças, cumprimentou os responsáveis da TVI e da Media Capital que se encontravam na primeira fila e saiu. Sempre ao som de frases como “Dói a propina! Dói a propina!”, “Está na hora, está na hora de o Governo ir embora!” e ainda “Estudantes unidos jamais serão vencidos!”.

Já fora do auditório, Miguel Relvas tentou sair por diversas portas do edifício, mas as saídas estavam barradas por grupos de estudantes, que também fizerem uma espera ao ministro junto aos automóveis da sua comitiva. Na rua ouviu-se Grândola, Vila Morena, que nos últimos dias tem sido a banda sonora de protesto contra o Governo – foi no debate quinzenal no Parlamento, na segunda-feira num debate em V.N. Gaia onde Relvas era o convidado, e voltou a ser agora no ISCTE.

Depois de o ministro sair, foi a vez de o jornalista e director de Informação da TVI, José Alberto Carvalho, subir ao palco e tentar acalmar os ânimos. “Os jornalistas são os vossos maiores aliados, até ao momento em que a liberdade de expressão se torna uma agressão a outros valores”, começou por dizer, vincando que “a liberdade de expressão não se impõe silenciando os outros": "Foi também isso que discutimos aqui hoje.”

Antecipando-se a uma vaia ou aplausos, José Alberto Carvalho avisou que não estava a dar a sua opinião “sobre Miguel Relvas, o Governo ou sobre as pessoas que se manifestaram”. “A liberdade de expressão é um princípio que devemos e que estivemos aqui a discutir hoje. Podem contar com a TVI para isso.” Foi aplaudido e os estudantes saíram da sala de forma ordeira.

Pouco depois deste protesto, o Governo emitiu uma nota, lamentando as "circunstâncias anómalas" que não permitiram a Miguel Relvas discursar e reiterando que "nunca se deixará condicionar por acções de natureza semelhante no exercício constitucional das suas funções".

Gaspar, a "próxima paragem"
Mas nem só estudantes protestaram contra Relvas no ISCTE. Os cartazes azuis e pretos que se viam na sala onde decorria a conferência são os que o movimento “Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas”, responsável pela grande manifestação de 15 de Setembro, está a usar para convocar mais um protesto nacional para 2 de Março (além de várias cidades portuguesas, Londres e Boston também estão na agenda). Cartazes que, de resto, citam um dos versos de Grândola, Vila Morena: “O povo É quem mais ordena”.

Os Indignados Lisboa, outro grupo de activistas, recordou ao longo de toda esta terça-feira, no Facebook, que Miguel Relvas iria estar no ISCTE às 17h, sugerindo – sem apelar directamente – a manifestação que acabou por acontecer. O mesmo colectivo, de novo na sua página naquela rede social, sugeria a "próxima paragem" para os protestos: as jornadas que o PSD dedica ao tema "Consolidação, crescimento e coesão", na quinta-feira, num hotel de Lisboa. Isto porque o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, integra o programa. "Vamos continuar", escrevem, num outro post.

No Twitter, a hashtag #Relvas tornou-se rapidamente a mais repetida pelos utilizadores portugueses daquela rede de microblogging. O aplauso ao protesto foi quase geral. O que não impediu o jornalista da TVI Pedro Calhau de reflectir sobre o caso: "Ver um governante a ser conduzido numa fuga a um protesto nunca tem nada de bom para ninguém. E esse é o maior sinal a reter". Filipe Caetano, jornalista da mesma estação, questionava por outro lado a opção de Miguel Relvas.

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