As ruas da Grécia receberam menos milhares de gregos contra a austeridade

Em Atenas e Salónica, dezenas de milhares de gregos protestaram esta terça-feira contra os planos de austeridade do governo para 2013, numa das mais pacíficas e menos concorridas manifestações desde o início da intervenção externa na Grécia.

No primeiro de dois dias de greve geral na Grécia, cerca de 25 mil pessoas protestaram em Atenas e 20 mil em Salónica, a segunda maior cidade do país. A greve geral de 48 horas, convocada pelas principais uniões de sindicatos gregas na semana passada - a GSEE, do sector privado, e a ADEDY, da função pública - levou menos gente às ruas do que aconteceu nos três protestos dos últimos dois meses.

Entre os (menos) milhares de manifestantes encontrava-se Dimitris Karavelas, de 42 anos. “As medidas estão erradas, os políticos e os ricos não estão a pagar os seus impostos e os únicos que o fazem são os que recebem 300 ou 500 euros por mês”, afirmou à Reuters.

Apesar de as duas centrais sindicais representarem sensivelmente metade dos 4 milhões de trabalhadores activos na Grécia, escreve a AFP que 15 dos 25 mil manifestantes que participaram na marcha contra a austeridade em Atenas foram convocadas pelo sindicato comunista Pame.

O líder da intersindical do sector privado, Yannis Panagopoulos, afirmou esta terça-feira que ficou desiludido com a fraca adesão à marcha de Atenas. “Infelizmente a adesão ao protesto não foi tão grande como deveria ser”, afirmou o dirigente sindical ao jornal grego kathimerini.

Panagopoulos justificou a falta de manifestantes com as paralisações nos transportes públicos em Atenas. De facto, reporta a Reuters, a greve de motoristas e taxistas levou os transportes na capital grega a pararem quase por completo. Já o aeroporto de Atenas esteve paralisado durante três horas.

Na véspera da crucial votação do principal pacote de medidas de austeridade e de novas leis de trabalho, cerca de 16 mil manifestantes protestaram em frente ao parlamento grego, segundo as contas da Reuters.

Parte do bolo total das medidas foi já discutido e aprovado, mas amanhã será servida a maior dose de cortes na despesa, despedimentos e cortes no rendimento. Das medidas que amanhã vão ser postas a votação antes de integrarem o documento final do Orçamento estão despedimentos de, no total, 8250 funcionários públicos, a serem notificados com antecedência entre este ano e o seguinte.

Para além das dispensas no sector do Estado, o governo grego propõe que as pensões para quem recebe mais de 1000 euros sejam cortadas até 15%, que a idade da reforma suba dos 65 para os 67 anos e que as regras para os despedimentos e contratações sejam flexibilizadas.

Fora do parlamento, Yiorgos Patras, de 35 anos, lamentava à AFP: "Tudo vai ser abolido. Os direitos dos trabalhadores e tudo o que foi ganho com o suor do combate".

Governo grego em caminhada acelerada até domingo

Mesmo com fracturas na coligação, o governo grego espera conseguir amanhã uma maioria parlamentar para a aprovação dos pacotes de medidas que o permita aprovar o documento final do Orçamento do Estado grego no domingo, um dia antes da reunião do eurogrupo.

A esperança do governo liderado pelo conservador Nova Democracia, partido do primeiro-ministro Antonis Samaras, é a de que, com a reestruturação orçamental de 13,5 mil milhões de euros aprovada antes da reunião dos líderes europeus, a entrega da tranche de 31,5 mil milhões de euros à Grécia receba luz verde na reunião dos ministros das Finanças.

Fracturas na coligação

Antonis Samaras apanhou um susto na segunda-feira, como reporta o jornal kathimerini, quando o ministro da Justiça Antonis Roupakiotis, do partido Esquerda Democrática (Dimar), se mostrou ao início relutante em assinar as propostas de lei que vão ser lidas amanhã no parlamento.

O Dimar é o mais pequeno partido do executivo tripartido, com uns modestos 16 deputados que não chegam a colocar em causa a maioria parlamentar do governo de coligação, mas que nem por isso deixou de se recusar, na semana passada, a aprovar as reformas à lei do trabalho grego.

Mas aos deputados do Dimar juntou-se a dissidência de alguns dos deputados socialistas do PASOK - o segundo partido da coligação - e cresceu o risco de o governo grego não conseguir amanhã os 151 deputados necessários para a maioria, caso mais deputados do PASOK se decidirem a não votar as medidas propostas, porque, por enquanto, a maioria ainda se mantém.

O ministro da Justiça Antonis Roupakiotis acabou por aceitar colocar a sua assinatura nos documentos depois de uma reunião com o líder do partido, Fotis Kouvelis, e, ainda na segunda-feira, o Dimar deu um passo atrás na oposição ao governo coligado.

Segundo afirma o diário grego kathimerini, o Dimar estará a planear uma abstenção à votação de quarta-feira e um voto em favor na última prova parlamentar para o documento final do Orçamento, no domingo, assegurando assim a permanência na coligação do governo grego.

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