Já há quem faça dos pavilhões do parque industrial de Beja a sua casa

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Os casos de pobreza multiplicam-se e a Câmara de Beja não está a conseguir fazer face a todos os pedidos de auxílio Daniel Rocha (arquivo)

As dificuldades financeiras não lhe permitem assumir os encargos com outro local de residência, obrigando-o a optar pelas instalações municipais, cuja renda também não paga. O problema foi analisado na reunião do executivo municipal de quarta-feira, mas o impasse mantém-se, dado o grave problema social que a autarquia tem em mãos.

O presidente da câmara, Jorge Pulido Valente, disse que o município já lhe perdoou algumas dívidas e reformulou outras, mas o empresário continua em incumprimento e a viver dentro do pavilhão que a autarquia construiu no parque industrial destinado às micro-empresas. Já foi apresentada queixa em tribunal, que reconheceu o montante da dívida, competindo agora ao município dar o passo seguinte: uma acção executiva que passa por desalojar o pequeno empresário. Só que esta não é solução que a câmara preconiza, face à condição social de extrema precariedade em que o visado se encontra "e não ser, do ponto de vista humano", a resposta que quer encontrar para resolver este problema.

No entanto, "mantê-lo lá não resolve nada", argumenta Pulido Valente. Frisa que se "corre o risco de transformar o parque industrial num bairro social", dando conta de que há outro caso semelhante e persiste a ameaça de que mais poderão vir a ocorrer, dada a dimensão da crise económica, desvirtuando a função das instalações que, além do mais, "não oferecem condições de habitabilidade".

Como a câmara tem um prazo de 20 anos para resolver o problema, depois de já ter transitado em julgado, decidiu-se "dar mais uma oportunidade" ao empresário, para que este encontre uma solução. Acontece que o empresário também tem dívidas por cobrar a clientes que a ele recorreram para reparar avarias em vários electrodomésticos. Uns estão arranjados, mas os seus proprietários não os vão levantar. Os que o fizeram garantiram que depois pagariam. A maioria das promessas ficou por cumprir.

As dificuldades com que os empresários se encontram por estes dias é também visível no número crescente de incumprimentos entre os que utilizam espaços camarários sob concessão. Só no mercado municipal, há oito comerciantes que ocupam lojas e estão em falta com o pagamento das respectivas rendas. "São incumprimentos crónicos", lamenta-se o autarca. Solução: proceder judicialmente e reclamar a entrega dos estabelecimentos. Mas como o negócio está fraco e a crise veio para durar, as dívidas vão continuar a acumular-se.

Tal como se acumulam as faltas de pagamento das rendas das casas sociais. Há casos de inquilinos que nem os cinco euros mensais conseguem pagar e os exemplos multiplicam-se por muitos dos 340 fogos dos bairros sociais da câmara. "Vamos pô-los na rua?", interroga-se Pulido Valente. Adianta que a autarquia seria de imediato chamada a disponibilizar alojamento, como acontece no caso das habitações entregues às instituições bancárias. "As Finanças contactam-nos a reclamar alojamento para aqueles que os bancos querem despejar", salienta o autarca. E responde de imediato: "Os bancos que resolvam o problema."

O mesmo não pode dizer a um número cada vez maior de pais que "não dispõem de um euro e meio para pagar as refeições dos filhos nas escolas", revela. E não esconde a sua preocupação com os dramas humanos que condicionam cada vez mais a capacidade de o município lidar com a pobreza crescente.

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