Autarcas do Interior lamentam dificuldades devido a cortes na ferrovia

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Passageiros faziam "esperas incríveis" na estação de Funcheira Foto: Fábio Teixeira/Arquivo

Um ano depois do anúncio do Plano Estratégico dos Transportes (PET), alguns autarcas de concelhos do interior afectados por cortes ferroviários afirmam que as populações foram prejudicadas e lamentam a falta de investimento no sector.

Na ferrovia, o PET prevê o encerramento de 622 quilómetros de linhas, ficando a rede ferroviária com menos 40% das linhas que possuía no auge da sua actividade, em 1944.

O Ramal de Cáceres encerrou no dia 15 de Agosto e a Linha do Leste suprimiu, no início do ano, os comboios de passageiros.

O município de Elvas, no Alentejo, considera que a supressão dos comboios de passageiros na Linha do Leste “prejudicou” as populações e que o desaparecimento do serviço contribuiu para “acentuar a desertificação”.

O vice-presidente, Nuno Mocinha, referiu à Lusa que o encerramento foi um “passo atrás” no desenvolvimento da região, defendendo que os responsáveis deveriam ter modernizado a linha para que, em vez de serem poucos a utilizá-la, passassem a ser muitos.

De acordo com o autarca, o maior impacto negativo para Elvas no que diz respeito ao sector ferroviário foi a “não construção da Plataforma Logística do Caia e a não construção da ligação Sines-Elvas”.

O presidente do município de Marvão afirmou que o maior impacto que o encerramento do Ramal de Cáceres obteve junto das populações foi a “nível psicológico”.

Segundo Vítor Frutuoso, a supressão trouxe “problemas” a trabalhadores do concelho e “condicionou a população da freguesia rural de Beirã, principal utilizadora dos serviços que aquele ramal oferecia”.

Na região Centro, em Abrantes (ligada pela Linha do Leste à fronteira com Espanha), a redução do número de comboios que fazia escala na estação que serve a cidade, em Rossio ao Sul do Tejo, é notória. “Deixámos de ter aqui a parar uma série de composições, entre elas os comboios internacionais, e ficámos todos mais reféns dos horários disponíveis”, observou a presidente da câmara.

“Sentimos a perda, pela redução da oferta”, acrescentou Maria do Céu Albuquerque, notando que a questão “não é mais grave para as pessoas devido à proximidade da estação de caminhos-de-ferro do Entroncamento”, importante entreposto ferroviário que dista cerca 20 quilómetros (km) de Abrantes.

No seu entender, “era importante que se fizesse mais qualquer coisa para a utilização do transporte colectivo na região, em detrimento do transporte individual”.

Já o presidente da Câmara de Beja, Jorge Pulido Valente, disse que não dispõe de informações sobre as consequências do fecho da ligação Beja-Funcheira (serviço de passageiros encerrado em Janeiro), que assegurava a ligação ao Algarve e passava pelos concelhos de Castro Verde e Ourique, nem tem “conhecimento de reclamações” da população.

“Era uma ligação que tinha muito pouca procura, abaixo até do nível mínimo de sustentabilidade”, frisou, admitindo que “o impacto não terá sido muito significativo” e que existem alternativas rodoviárias.

Contudo, Florival Baioa, do movimento “Beja Merece” –criado para defender a manutenção da linha – diz que o fecho da ligação “prejudicou” sobretudo jovens de Beja que vivem e estudam no Algarve e idosos dos concelhos de Castro Verde e Ourique, que a usavam para se deslocarem a Beja para consultas médicas.

A supressão “deixou a região de Beja mais isolada e isso é sentido pela população”, disse, frisando que as pessoas usavam pouco a ligação porque os horários dos comboios eram “desadequados” e os utentes estavam sujeitos a “esperas incríveis” na Estação da Funcheira pelos comboios que chegavam de Lisboa e os levariam até ao Algarve.

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