As negociações entre Grécia e troika ainda não desataram o nó do impasse

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Há três grandes esferas de desacordo nas negociações gregas com a troika: corte na despesa, contracção do PIB em 2013 e, por fim, a sustentabilidade da dívida pública Yorgos Karahalis / Reuters

Aproxima-se o final da semana de negociações entre os representantes da troika e o Governo grego, sem que se antecipe, contudo, uma resolução rápida o suficiente para que as propostas possam ser anunciadas na reunião do eurogrupo da segunda-feira.

Há três grandes temas de impasse nas negociações: a dimensão dos cortes na despesa do Estado, o valor da contracção da economia grega em 2013 e a sustentabilidade da dívida pública grega.

O processo para libertar a já atrasada tranche de 31,5 mil milhões envolve uma dupla-aprovação. A primeira, responsabilidade da equipa da troika em Atenas, deve alinhavar as medidas para que passem por um segundo processo de aceitação - a cargo dos parceiros europeus.

Os planos para o orçamento de Estado apresentados na passada segunda-feira pelo Governo grego prevêem um corte de cerca de 10 mil milhões de euros na despesa do Estado. Mas a troika quer mais. cerca de 2,5 mil milhões de cortes acrescidos que o executivo estará relutante em aceitar, segundo fontes dentro do Ministério das Finanças grego citadas pela Reuters.

A discussão sobre os cortes adicionais que a troika quer ver acrescentados ao plano do orçamento será o principal tema a ser discutido nas reuniões desta semana. Espera-se que as discussões continuem na próxima semana, não estando à vista nenhum acordo.

Os cortes previstos no plano de orçamento serão feitos principalmente na despesa com o sector público. Estão previstas reduções salariais e despedimentos para os funcionários do Estado e uma redução na contribuição para despesas de saúde. Também os benefícios sociais vão ser alvo de corte.

Na disputa para chegar a acordo sobre os 2,5 mil milhões de poupança acrescida, o Governo estará a propor mais cortes na saúde e defesa, algo que, afirma a Reuters, a troika não considera “exequível”.

Na base da discussão sobre a despesa grega está o segundo ponto de divergência entre o Governo e a troika: o valor da contracção económica grega em 2013.

Recessão grega

No plano orçamental apresentado na segunda-feira, o executivo anunciou que o país espera uma contracção no Produto Interno Bruto (PIB) de 3,8% em 2013. A par deste valor, os dirigentes gregos contam com um superávit orçamental que deverá rondar os 1,1% do PIB. Ambas as previsões são contestadas pelos representantes da troika.

O desacordo alimenta a discussão sobre a necessidade de mais cortes no orçamento para 2013. Segundo uma fonte do Ministério das Finanças da Grécia ouvida pela Reuters, a troika espera que a recessão no país ultrapasse os 3,8% esperados pelo Governo e chegue aos 5%.

Chega-se à dívida grega e ao terceiro impasse nas negociações com a troika. O ministro das finanças grego é citado esta quinta-feira pelo diário alemão Bild , recusando, em primeiro lugar, que haja qualquer tipo de desacordo entre o Governo e os credores – algo que não obteve grande credibilidade junto da imprensa internacional - e admitindo, depois, que vai pedir mais tempo aos restantes ministros das finanças na reunião do eurogrupo.

Dívida grega

O Fundo Monetário Internacional pronunciou-se esta quinta-feira acerca da crise da dívida grega. A directora do FMI, Christine Lagarde, disse que a libertação da tranche de 31,5 mil milhões não depende apenas dos cortes orçamentais na despesa do Governo. A dívida do país não é considerada sustentável e, segundo as previsões do executivo grego, está ainda longe do objectivo que o Fundo Monetário Internacional atribuiu ao país e que Lagarde continua a defender: 120% do PIB.

Contudo, a previsão do executivo de Antonis Samaras aponta para uma dívida que deve rondar os 179,3% do PIB. Estando a próxima fatia da ajuda ao país em suspenso também pela necessidade de tornar sustentável a dívida do país, o Governo tem duas opções: ou pede mais tempo aos parceiros europeus – o que já foi admitido pelo ministro das finanças -, ou então pede uma segunda reestruturação da dívida, o que resultaria em maiores perdas para os credores.

A segunda opção parece estar fora dos planos do Governo. De qualquer das formas, tudo indica para que uma reestruturação fosse impossível a esta altura.

A Alemanha deve retomar a postura severa que se tem atenuado nos últimos meses, o que significa que a posição germânica face à crise grega se pode agravar. A mudança deve acontecer, defende Alex White, da firma JP Morgan, devido às iminentes eleições legislativas na Alemanha.

A chanceler alemã tem sido alvo de críticas dentro do seu partido, pela posição de “activismo político” que tem assumido face à crise europeia – leia-se, posição reformadora na linha com o que tem sido anunciado pelo BCE.

Para reforçar a sua posição no partido da liderança, os democratas cristãos (CDU), e para se demarcar do adversário do centro-esquerda, Peer Steinbrueck, Angela Merkel deverá mostrar-se mais intransigente face às reformas anunciadas para a zona euro e, por arrasto, mais severa face aos países recessivos da periferia europeia.

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