A contestação a Passos Coelho vê-se no Facebook

Passos Coelho no momento em que se dirigiu ao país através da TV
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Passos Coelho no momento em que se dirigiu ao país através da TV Foto: Miguel Madeira
Texto mais recente na página de Passos Coelho encheu-se de comentários
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Texto mais recente na página de Passos Coelho encheu-se de comentários Imagem: DR

A notícia de que vai ser preciso apertar ainda mais o cinto foi dada na sexta-feira à noite pela televisão. A reacção não se fez esperar e tornou-se visível sobretudo nas redes sociais. O perfil no Facebook de Pedro Passos Coelho encheu-se de comentários – se houvesse som, seria uma grande vaia.

Numa comunicação ao país transmitida por todos os canais de televisão, o líder do Executivo PSD-CDS/PP anunciou um pacote de medidas que para os trabalhadores do sector privado significa, na prática, a perda de um salário no próximo ano – mediante o aumento da contribuição para a Segurança Social em sete pontos percentuais – e para os funcionários públicos mantém aquilo que eles já sabiam que iriam perder, isto é, o equivalente a dois salários. Isto porque o Governo vai inscrever na proposta do próximo Orçamento do Estado, para 2013, a subida da contribuição de todos os trabalhadores de 11% para 18%, mantendo-se o corte de um subsídio para os funcionários públicos e de dois para os pensionistas. Face a isto, a reacção não se vez esperar: não nas ruas, mas na Internet, onde o Facebook permite a ilusão de que se responde directamente a uma pessoa, neste caso, Passos Coelho.

Não é a primeira vez que a agitação política se transfere para o mundo virtual. Quando em 2011 o mesmo primeiro-ministro anunciou o corte de subsídios para todos os funcionários públicos e pensionistas, a página de Pedro Passos Coelho no Facebook tornou-se uma espécie de foz de um rio de desgostos, irritações, críticas e alguns comentários de apoio.

Desta vez, os contribuintes que são também utilizadores desta rede social nem fizeram questão de escolher ou esperar por algum texto do primeiro-ministro alusivo à comunicação de sexta-feira à noite. Aproveitaram simplesmente o texto mais recente de Passos Coelho – e que já é velho, de 25 de Junho – e deixaram lá escrito o que ia na alma. Sem nenhum tipo de censura, ou prurido.

Às 13h39, a página registava 4962 comentários. A esmagadora maioria foi publicada após o anúncio de mais austeridade. Mas o facto de se ter sabido com algumas horas de antecedência de que iria haver uma comunicação ao país gerou tal ansiedade que muitos foram lá deixar comentários por antecipação. Há quem lhe dedique vídeos no Youtube, de músicas cujos títulos não são simpáticos para Passos Coelho, há quem republique afirmações não muito antigas de Passos Coelho que ficaram escritas para sempre na conta de Twitter do primeiro-ministro, que publicou nessa rede social, por exemplo, afirmações como: "O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento."

Mas isto foi antes da comunicação ao país. Depois, à medida que os partidos, sindicatos e parceiros sociais desfilaram pelas televisões reagindo às medidas anunciadas por Passos Coelho, centenas de utilizadores do Facebook atiraram-se de cabeça para esta rede social e foram lá para deixar a sua opinião. Muitas vezes, com insultos impublicáveis, muitas vezes também em letras maiúsculas – o que segundo a "etiqueta" da Internet significa que quem escreve está a gritar –, raramente para dar uma palavra de apoio às decisões do líder do Governo.

"Se isto não é aumento de impostos vou ali já venho...", escreveu um dos utilizadores. Outros apontam o falhanço da receita da austeridade, defendendo que se foi assim no último ano, os resultados de mais austeridade não deverão ser diferentes daqui para a frente. Segundo diferentes analistas, a comunicação de Passos Coelho deixou muitas dúvidas no ar. Já o primeiro-ministro, se consultar a página dele no Facebook, pode ficar com a certeza de que há muita gente zangada. E de que, sinal dos tempos, a Internet está a ser, nas primeiras 24 horas após o anúncio, o local dos protestos contra as intenções do Governo.

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