Milhares de espanhóis na rua dizem “não” aos cortes do Governo de Rajoy

Foto
Funcionários do sector da justiça juntaram-se ao protesto em Madrid Andrea Comas/Reuters

Primeiro saíram à rua em Barcelona, depois em Madrid, Sevilha, Bilbau e muitas outras cidades. Milhares de espanhóis manifestam-se nesta quinta-feira à noite, dizendo “não” aos cortes no primeiro protesto global contra as medidas de austeridade anunciadas pelo Governo de Mariano Rajoy.

“Mãos ao ar, isto é um assalto”, voltou a ouvir-se nas ruas de Espanha, e desta vez em várias cidades. Em Madrid, a manifestação transformou-se depressa numa grande concentração que encheu a rua Alcalá até à Porta do Sol; em Barcelona gritou-se “Não aos cortes”, mostraram-se cartazes com tesouras riscadas a vermelho. Horas depois de o Parlamento ter aprovado novos cortes, Espanha tornou-se um país em protesto.

As concentrações desta quinta-feira foram marcadas pelos sindicatos para 80 cidades, e ao apelo da Confederación Sindical de Comisiones Obreras (CC OO) e da Unión General de Trabajadores (UGT), juntaram-se várias outras organizações. Para Madrid foi marcada uma concentração ao início da noite que seguiria da Praça Neptuno para a Porta do Sol. Em Barcelona a marcha seguiria em direcção à delegação do Governo, mas também foram marcados protestos para Málaga, Bilbau, Sevilha e tantas outras cidades.

Em Madrid saíram à rua cerca de 50 mil pessoas, segundo o El País, ainda que as autoridades policiais tenham referido 25 mil. Antes de começar o protesto na capital, os secretários-gerais da CC OO e da UGT, Ignacio Fernández e Cândido Méndez, defenderam que o Governo deve convocar um referendo sobre as medidas de austeridade, e ainda durante a tarde um grupo de manifestantes, sobretudo funcionários públicos, bloqueou o trânsito em vários locais de Madrid, como o Paseo del Prado ou a rua Alcalá para protestar contra as medidas de austeridade, entre elas o aumento do IVA, a redução do subsídio de desemprego ou a eliminação do subsídio de Natal.

Trabalhadores queimados

Pouco após o início das manifestações era ainda difícil saber quantas pessoas saíram à rua, mas o Movimento 15M, os “indignados” que estiveram várias semanas acampados na Porta do Sol, transmitiram imagens dos protestos em várias cidades através da Internet.

Este protesto segue-se a vários dias de manifestação em Madrid que têm incluído polícias, ou até bombeiros. Desta vez, também as associações de juízes, procuradores e secretários judiciais apelaram à participação no protesto contra as medidas de austeridade que consideraram “um ataque aos direitos”. E o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), o principal partido da oposição, adiantou que estaria representado por uma delegação liderada pelo eurodeputado Sérgio Gutiérrez.

Na manifestação em Madrid, a maior de todas, houve polícias que apareceram fardados, bombeiros que até levaram o carro da corporação e cartazes a dizer “trabalhadores queimados”.

“Estas medidas não vão relançar o consumo, não vão criar emprego, elas atingem aqueles que, como nós, temos uma situação um pouco mais estável que pode ajudar a aumentar o consumo”, disse à AFP Inês Cornide, uma funcionária judicial de 44 anos que esta semana se manifestou em Madrid. “Temos de fazer barulho, porque eles estão a fazer troça de nós e de todos os trabalhadores”, disse à Reuters a auditora de finanças Iriam, de 34 anos. Aos poucos, ao início da noite desta quinta-feira, iam chegando notícias de concentrações em Pontevedra, Burgos ou Sevilha.

Cândido Méndez tinha referido durante a tarde que não está posta de parte a possibilidade de se vir a convocar uma greve geral após as manifestações. “Estamos perante uma agressão em todas as direcções, isto afecta 99,9% da população”, disse ao El País .

Os cortes anunciados, 65.000 milhões de euros em dois anos, traduziram-se em pesadas medidas de austeridade. A Coordenadora dos Trabalhadores do Espectáculo, plataforma de sindicatos ligados à cultura e ao espectáculo, participou no protesto para contestar sobretudo o aumento do IVA de 8% para 21% em cinemas, teatros ou museus, o que, adiantou “tem por detrás uma ideologia, um ajuste de contas com o sector”. O actor Javier Bardem foi um dos que se juntou à manifestação e explicou: “Estou aqui porque é uma injustiça tirar a responsabilidade ao sector financeiro para a atribuir aos reformados ou aos desempregados.”

Pneus dos carros da polícia furados

Nesta quinta-feira de manhã, a Unidade de Intervenção Policial encontrou vários dos seus veículos com os pneus furados – 97 veículos, segundo fontes do sindicato da polícia citadas o El País, com danos de 40.000 a 50.000 euros. Os números oficias das autoridades policiais referiram 30 veículos afectados e adiantaram que o problema já estava resolvido.

O ministro do Interior, Jorge Fernández Dias, referiu-se a este ataque, perante o Parlamento, como uma “pequena sabotagem” que não afectou a mobilidade dos polícias, sublinhou a agência EFE. Grande parte das viaturas estavam dentro do recinto da polícia no bairro madrileno de Moratalaz, uma zona alegadamente protegida e de acesso restrito aos membros da polícia, adiantou o El País.

Sugerir correcção
Comentar