David Cameron esqueceu-se da filha mais velha num pub

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David Cameron e a mulher Samantha não se aperceberam imediatamente que a criança não estava com nenhum deles Foto: Reuters

Aconteceu há dois meses, mas só agora foi confirmado pelo gabinete do primeiro-ministro britânico. Nancy, de oito anos, foi deixada sozinha, cerca de 15 minutos, no pub onde David Cameron, a mulher e os amigos haviam almoçado.

O casal Cameron só deu por falta de Nancy após chegar à residência oficial do primeiro-ministro no campo, em Chequers, onde passaram o fim-de-semana em família e com amigos, adiantou o The Guardian.

Quando o grupo se preparava para abandonar o local, Nancy ter-se-ía ausentado para ir à casa-de-banho. Os Cameron estavam no pub Plough Inn, perto de Chequers, em Cadsden, com Nancy e os outros filhos – Arthur, de seis anos, e Florence com 22 meses, assim como outras duas famílias com filhos.

O casal só se apercebeu da ausência da criança quando chegou a casa, revela o The Sun. Ao mesmo jornal britânico, o gabinete de imprensa do primeiro-ministro explica que o governante e a mulher Samantha ficaram desesperados quando deram conta que Nancy não estava com nenhum deles. Samantha esperava que a menina estivesse com o pai, o mesmo aconteceu com David Cameron que abandonou o local convencido que a criança seguia noutro carro com a mãe.

Os Cameron ligaram de imediato para o bar e respiraram de alívio. Afinal, Nancy estava lá a ajudar o pessoal e encontrava-se bem. Foram 15 minutos entre o esquecimento e o reencontro, assegura o gabinete do primeiro-ministro.

Contudo, os funcionários do pub classificaram o lapso como "inadmissível". Ao se depararem com a criança esquecida, ninguém sabia o que fazer: "Não é usual procurarmos o nome David Cameron na lista telefónica e ligarmos a dizer-lhe: 'O senhor deixou a sua filha esquecida...'"

Famílias problemáticas

Este caso é particularmente irónico quando foi conhecido precisamente no mesmo dia em que o Governo anunciou um programa de apoio às famílias problemáticas, ou seja, àquelas que são pobres e, muitas vezes, negligenciam os seus filhos.

O secretário de Estado das Comunidades, Eric Pickles, responsável por esta pasta, tem insistido que as famílias com problemas não são vítimas. "Essas famílias estão a arruinar as suas vidas, a vida dos seus filhos e dos seus vizinhos", acusa o responsável, ouvido esta segunda-feira pela BBC Radio 4.

O que é uma família com problemas? Para o actual Governo britânico é aquela em que "nenhum dos progenitores trabalha, a família vive com pouca qualidade ou numa habitação superlotada, em que nenhum dos progenitores tem todas as qualificações, a mãe tem problemas de saúde mental, pelo menos um dos pais tem uma doença limitadora, deficiência ou enfermidade, a família tem renda baixa, ou a não pode pagar um número de itens alimentares e de vestuário", define Pickles.

Claramente não é o caso dos Camerons, mas o casal não ficou bem visto. "É de se esperar que alguém tivesse feito uma contagem ou qualquer coisa assim", aponta um funcionário do pub. "É aterrador, o primeiro-ministro não se pode esquecer de algo tão importante como a sua filha", conclui outro, ouvido pelo The Sun.

Um olhar clínico sobre o caso

Para Manuel Coutinho, psicólogo clínico e coordenador do Projecto SOS Criança, o caso parece ser meramente pontual e não apresenta indícios de negligência. A prova está que os pais, logo que deram pelo incidente, foram em socorro de Nancy.

Nestes casos de índole acidental é necessário ter algum cuidado e discernimento “quando fazemos análises comportamentais, pois não há nada mais imprevisível do que a imprevisibilidade do comportamento humano” alerta o psicólogo clínico, advertindo ainda que, “estas situações podem acontecer a qualquer pessoa independentemente do estatuto social dos intervenientes”.

Nancy terá tido, provavelmente, uma reacção de aflição, até de pânico, mas terá percepcionado, que a situação seria fruto de um incidente, acrescenta o psicólogo clínico.

Manuel Coutinho esclarece que criança aos oito anos já “tem capacidade para pedir ajuda” e que não terá sido a única a ser afectada com o desfecho da situação, afinal de contas “quando desaparece uma criança, também desaparece uma família”.

Para evitar eventuais retrocessos no desenvolvimento psico-emocional, Nancy deverá ser acompanhada por um psicoterapeuta, para exteriorizar os seus medos e anseios, aconselha o coordenador do SOS Criança. Um abraço gigante e um pedido sincero de desculpa à criança, são o melhor remédio para sarar a ferida aberta e afastar possíveis traumas que possam surgir, garante o psicólogo.

Ajudar a família a encontrar o equilíbrio é o primeiro passo a dar. "Perceber e não julgar" é condição assente para Manuel Coutinho porque “julgar é não compreender, porque quando se compreende já não se pode julgar".

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