Otelo defende actuação das forças armadas face a perda de soberania

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Otelo considera que a esperança de 1974 está a morrer Foto: Rui Gaudêncio

O coronel Otelo Saraiva de Carvalho afirmou nesta quarta-feira, em Coimbra, que só as Forças Armadas, em nome do povo, poderão resolver o problema da perda de soberania de Portugal, como a que actualmente se verifica, derrubando o Governo.

Ao proferir uma palestra no Instituto de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC) sobre “As Forças Armadas na Defesa da República e da Democracia Portuguesa”, respondeu àqueles que reclamam um novo 25 de Abril dizendo que “sem dúvida que era necessário”.

Para o “capitão de Abril”, tal como o que se passava com o governo socialista liderado por José Sócrates, com actual executivo “há esta submissão grande em relação à grande potência actual da Europa que é a Alemanha”, com “uma perda de alta soberania” de Portugal.

“Esta perda de soberania é tão marcante que, foi por isso que eu disse, estão a ser atingidos limites. Quando esses limites forem ultrapassados... E aqui, nesta ligação constitucional das Forças Armadas ao povo, com as Forças Armadas ao lado do povo, em defesa do povo português, aí de facto as Forças Armadas terão de actuar”, sustentou.

Para Otelo Saraiva de Carvalho essa actuação das Forças Armadas passaria por “uma operação militar que derrube o Governo que está” em funções.

“Mesmo apesar de eu saber que o Governo foi eleito. Mas foi eleito em que condições? E actualmente há satisfação dos portugueses em relação ao poder que foi eleito? E se houver outras eleições haverá satisfação? Não!”, responde aquele que foi um dos protagonistas da revolução de 25 de Abril de 1974.

No seu entendimento, “quando há perda de soberania, perda de independência nacional, as Forças Armadas têm de actuar”.

No início de Janeiro, o Ministério Público abriu um inquérito

relacionado com declarações de Otelo Saraiva de Carvalho, que, numa entrevista à Lusa publicada em Novembro, falou na possibilidade de haver um golpe militar, caso fossem “ultrapassados os limites”.

Na intervenção em Coimbra, Otelo Saraiva de Carvalho considerou também que a “esperança que o 25 de Abril abriu está a morrer e está a ser passada de [certa] forma uma certidão de óbito total” àquilo que representou a revolução.

“Há uma infracção permanente às disposições constitucionais por parte dos sucessivos governos e, sobretudo, que vão atingir os direitos sociais dos trabalhadores”, acrescenta.

Para Otelo Saraiva de Carvalho, o que se está a passar é mais uma consequência da falta de audácia do Movimento das Forças Armadas (MFA) no período revolucionário.

“Nós, MFA, tínhamos o poder na mão, de nos afirmarmos como um país soberano, como um exemplo dado ao mundo, notável, que foi a descolonização, sem ponta de neocolonialismo nosso, no estabelecimento de relações fraternas”, acentuou.

Este coronel na reserva considerou a Islândia “um caso notável” de reacção popular recente.

“O povo prendeu os políticos, prendeu os banqueiros, disse que não pagava dívida nenhuma, que a culpa não era do povo, e com o poder popular emergente elegeram uma comissão para elaborar uma nova Constituição”, concluiu.

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