Alcaide de Olivença nega intuito de ofender Portugal com peça de teatro sobre a “Guerra das Laranjas”

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Foto: Rui Gaudêncio

Bernardino Píriz, alcaide de Olivença, negou nesta segunda-feira qualquer intenção de ofensa a Portugal pela apresentação, prevista para princípio de Junho, de uma peça teatral sobre a história daquele município da raia e a sua conquista pelos espanhóis em 1801. Naquela representação consta uma referência ao episódio conhecido pela “Guerra das Laranjas”. Uma iniciativa que suscita reparos aos políticos da Estremadura espanhola, fronteiriça com o Alentejo, e já suscitou um requerimento da bancada do PS ao Governo.

“O que se pretende fazer é uma obra de teatro da história de Olivença, na qual o processo de reconstituição da ‘Guerra das Laranjas’ será de dez segundos numa obra que dura duas horas”, assegurou Píriz. Dos dez actos previstos, dois incidiriam sobre a assinatura do tratado pelo qual Olivença voltou a ser parte integrante do território de Espanha.

O episódio da “Guerra das Laranjas” assinala a anexação de Olivença por parte de Espanha, facto que nunca foi reconhecido pelo Direito Internacional nem pelos tratados subscritos entre os dois países ibéricos. Este é, aliás, um dos fundamentos do pedido de esclarecimento ao Governo dos deputados socialistas. “Só uma iniciativa desse tipo pode parar este disparate”, congratulou-se o antigo alcaide Rocha. A iniciativa de Píriz também não é bem vista pela diplomacia espanhola.

O jovem alcaide de Olivença, eleito nas listas do Partido Popular em Maio de 2011, refere que aquela representação será acompanhada de outras iniciativas, como a celebração de um mercado e uma mostra gastronómica de produtos típicos de Portugal.

“O programa definitivo será apresentado em Abril”, anuncia, escusando-se, no entanto, a dar a lista de municípios alentejanos que já convidou e vão estar presentes. “Não estamos de acordo de que a representação seja ofensiva para o povo de Portugal, porque se assim fosse eu me negaria”, afirma na página web do município de pouco mais de 11 mil habitantes.

“Não compreendo qual é o objectivo, em 28 anos como alcaide de Olivença defendi a comunicação com os nossos irmãos portugueses”, contrapõe Ramón Rocha, o antigo edil socialista da terra.

“Estamos irmanados com várias câmaras portuguesas, como Elvas, Cadaval, Vila Viçosa, Portalegre e Leiria”, recorda Rocha, para quem “isto não tem sentido, muito menos no momento difícil em que vivem os nossos dois países”.

Segundo o antigo presidente camarário, o actual alcaide, perante o debate surgido do outro lado da fronteira, já fez alterações à peça.

Uma versão que foi corroborada ao PÚBLICO por José Rondão de Almeida, presidente da Câmara de Elvas. “Ele [Bernardino Píriz] tem vindo pouco a pouco a mudar a ideia original: começou com a ‘Guerra das Laranjas’, alterou porque lhe chamaram a atenção, mas ao fim e ao cabo, toca na mesma tecla”, sublinha o autarca.

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