"Tabu", de Miguel Gomes, é considerado o filme sensação no Festival de Berlim

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Miguel Gomes com o elenco na passadeira vermelha do Festival de Berlim Reuters

O realizador português Miguel Gomes está em destaque na crítica internacional, depois de “Tabu” ter sido ontem exibido no Festival de Berlim, onde concorre na selecção oficial ao lado de Brillante Mendoza ou Zhang Yimou. O filme, muito aplaudido segundo as crónicas dos enviados especiais, é hoje elogiado pela imprensa.

Desde 1999 que um filme português não era escolhido para a selecção oficial do festival mas Miguel Gomes, autor de “Aquele Querido Mês de Agosto”, ainda poderá cometer a proeza de levar a Berlim um filme sensação que, escrevem alguns, conquistará o Urso de Ouro.

O Hollywood Reporter escreve que “Tabu” é mais um exercício “encantadoramente excêntrico” de Gomes na meta-ficção, explicando que o realizador explora as suas personagens sem seguir qualquer regra narrativa, tornando lugares e experiências comuns “num estranho entretenimento contemporâneo”. “A liberdade de Gomes em trabalhar com peças familiares vai novamente ganhar elogios da crítica para o realizador que foi crítico”, continua a crítica.

Dividido em duas partes, o filme a preto e branco evoca e invoca ao mesmo tempo a presença portuguesa em África e o cinema clássico, passado entre a Lisboa dos nossos dias e os anos de 1960 no sopé do Monte Tabu. “O público dos festivais, em particular, vai achar que é uma tentativa louvável de abrir novos caminhos. A estrutura em si é divertidamente desequilibrada.”

No espanhol El Mundo, o crítico Luis Martínez começa por comparar “Tabu” de Miguel Gomes ao “Tabu” do realizador alemão F. W. Murnau (1888-1931), por “ser um desses filmes que uma vez que se veja cai-se irremediavelmente na melancolia”.

“Os mais rigorosos dirão que é um filme completamente novo e que nada tem a ver com o original. Mentira. É exactamente o mesmo, mas, e aqui com precisão, radicalmente distinto”, continua o jornal espanhol sobre as duas obras.

Já ontem, na conferência de imprensa em Berlim, Gomes foi questionado sobre a influência que de Murnau no seu trabalho, explicando que em comum o filme tem apenas o título "Tabu" e o nome da personagem Aurora.

Para o crítico espanhol, Miguel Gomes ficou mais perto de se tornar “muito maior” do que aquilo que é hoje, depois da exibição do filme em Berlim.

Já o El País escreve sobre Miguel Gomes e a projecção no Festival de Berlim sempre num tom irónico. O crítico espanhol Carlos Boyero escreve que o interesse que o filme gerou no festival se resumia à longa fila de espera para entrar na sala, destacando que havia “uma expectativa desmesurada”. “Iam projectar o último de Scorsese, o último de Eastwood, uma retrospectiva de Ford, Renoir, Wilder, Lubitsch, Buñuel ou Lang?”, lê-se no jornal, para o qual “Tabu” é demasiado abstracto e conceptual - aliás, o mesmo tipo de argumentos que Boyero usou para a sua crónica sobre "O Tio Boonmee que se lembra das suas vidas antigas", Palma de Ouro de Cannes em 2010.

Já para a revista norte-americana Variety, mais do que em “Aquele Querido Mês de Agosto”, “Miguel Gomes começa ‘Tabú’ de uma forma aparentemente ridícula e inesperadamente desloca-se para algo enriquecedor e surpreendentemente poético”.

“O que é mais marcante na compreensão de Gomes é como ele expõe o genuíno”, escreve a Variety, explicando que o realizador português consegue isto “sem qualquer diálogo, permitindo que as belas palavras do narrador concretizem a beleza daquilo que está no ecrã”.

“O resultado é um filme que começa de forma desconcertante e termina insinuando os seus encantos.”

No Brasil, a Folha de São Paulo escreve que "Tabú" tem grandes hipóteses de conquistar o prémio máximo do festival. "O filme, a preto e branco, não só possui uma boa história, como a conta explorando as diversas possibilidades de narração por images", continua.

Na imprensa alemã, as críticas dividem-se. O Tagesspiegel, diário de Berlim, escreve que o filme “quase não é deste mundo, tão distante como as vozes dos amantes que nele lêem as suas cartas de amor, um filme à margem da grande festa de imagens que é a Berlinale, um filme como papel de seda, que é melhor não ver quando há vento”.

Por sua vez, o Tageszeitung, também de Berlim, afirma que “Tabu” “começa como um conto de fadas, mas acaba por abordar o passado colonial de Portugal, centrado numa mulher excêntrica”, lembrando o sucesso alcançado por Miguel Gomes com “Aquele Querido Mês de Agosto”. Com ‘Tabu’, no entanto, Miguel Gomes “transforma os defeitos da ficção numa virtude”, diz o crítico alemão.

O Urso de Ouro, que o ano passado foi entregue a filme do iraniano Asghar Farhadi, "Uma Separação", é entregue no sábado.

Notícia actualizada às 12h28, acrescentadas as críticas da imprensa alemã
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