Inês de Medeiros preocupada com interesses angolanos na venda de um canal da RTP

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Deputada socialista lembrou que "uma das possibilidades é que este canal [a privatizar] seja vendido ao Estado angolano ou a uma empresa angolana" Enric Vives-Rubio

A deputada socialista Inês de Medeiros levantou hoje a suspeição sobre se a proximidade entre a RTP e o Governo angolano não poderá estar relacionada com a venda, a médio prazo, de um dos canais da televisão pública portuguesa.

Numa intervenção muito contestada pelos deputados do PSD e do CDS, Inês de Medeiros preferiu usar boa parte do seu tempo para interrogar o jornalista Pedro Rosa Mendes para deixar "alguns reparos" sobre o que classificou como "ingerência sem precedentes".

"A ser verdade este acto de censura, esta repercussão imediata [fim do programa devido às críticas a Angola], esta ingerência indevida, este caso é de uma gravidade sem precedentes. E nós não podemos ser alheios ao contexto em que isto se passa", começou por dizer a deputada socialista.

"Não podemos ignorar que há um plano de reestruturação em curso na RTP, há uma proposta de privatização de um canal, e que uma das possibilidades é que este canal seja vendido ao estado angolano, a uma empresa angolana, directamente ligada com o Estado", acrescentou Inês de Medeiros, sob os apartes críticos dos deputados da coligação de Governo.

Ressalvando que "em termos de metodologia" não se podem tirar conclusões sobre isso, Inês de Medeiros vincou que "também não se pode ignorar". "E se o programa Reencontro tiver uma relação directa com o futuro da RTP, e se este facto [fim do programa] se vier a comprovar que tem uma relação directa, srs. deputados, já não apelo à vossa consciência partidária: apelo à vossa consciência de cidadãos portugueses", pediu a deputada, para concluir que "isto é de facto de uma gravidade sem precedente, de uma ingerência e de uma utilização do sevriço público como nunca ninguém se atreveu a fazer desde o Estado Novo".

Considerando que se "pode estar perante uma utilização absolutamente inaceitável da RTP sob todos os pontos de vista", afirmou não entender "a ligeireza" com que os deputados sociais-democratas e centristas "encaram essa possibilidade".

Além de Reencontro - "como é que tem o ministro Miguel Relvas e não tem, por exemplo, o Presidente da República e o ministro dos Negócios Estrangeiros?" -, Inês de Medeiros criticou igualmente o programa "Portugal Aplaude", transmitido na noite do passado domingo e que "foi concebido e organizado pela secretaria de Estado da Cultura". "Uma utilização, tal como estamos a assistir da RTP, em que uma secretaria de Estado, um ministério ou um ministro pode encomendar programas ao serviço público, isto não vos interpela?", questionou a deputada socialista aos membros dos dois partidos do Governo.

Questionado sobre a sua percepção do programa Reencontro da RTP, Pedro Rosa Mendes não quis comentar "o formato nem as intenções do programa". Mas deixou a sua interpretação: "Sei no que é que o programa resultou: numa enorme operação de promoção de um el dourado, de uma imagem positiva do país e do regime angolano, sem nenhum contraditório às questões graves que fervem em Angola e Luanda todos os dias."

E foi mais longe: "Talvez a pergunta correcta não seja para mim: quem teve a ideia inicial do programa?".

Pouco depois era a vez de Catarina Martins, do BE, retomar a questão dos incómodos em relação a Angola. "O que nos deve preocupar é o facto de se dizer que já não é preciso fazer um telefonema [para pressionar a comunicação social a não escrever sobre os problemas de Angola]". E criticou: "Não ver que é a nossa democracia que está em risco é de uma leviandade inaceitável e intolerável."

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