Dez idosos encontrados mortos em casa em Lisboa desde o início do ano

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Câmara de Lisboa quer reforçar assistência e socorro a estes casos Foto: Adriano Miranda

Desde o início do ano até ontem, foram encontrados mortos em casa dez idosos, só em Lisboa. Este número, que já inclui o caso das duas mulheres descobertas ontem à tarde mortas no apartamento onde viviam, na freguesia das Mercês, é "preocupante" e tem vindo a aumentar nos últimos anos, diz o vereador da Protecção Civil, Manuel Brito.

Na sequência do caso registado ontem, o vereador convocou a vereadora da Acção Social, Helena Roseta, para uma reunião na qual pretende discutir formas de reforçar o apoio a pessoas em risco na cidade.

As duas mulheres, de 74 e 80 anos, encontradas ontem mortas no apartamento onde viviam na Travessa do Convento de Jesus, já não eram vistas desde o início do ano. Segundo a porta-voz do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, subcomissária Carla Duarte, "a irmã mais nova morreu e a outra deixou de receber assistência, tendo acabado por falecer", com fome e sede. A mulher de 80 anos estava acamada e era a irmã, doente com cancro, que lhe prestava assistência.

“Fiquei chocado com a situação. Vamos ver que vias de comunicação podemos accionar para aumentar o alcance da nossa rede de socorro”, disse ao PÚBLICO o vereador Manuel Brito. O tema vai ser discutido esta tarde numa reunião de rotina com a Protecção Civil e o Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB) de Lisboa, para a qual o vereador decidiu convidar Helena Roseta.

“Temos todos de reflectir sobre isto porque temos dados preocupantes sobre o aumento do número de pessoas encontradas mortas em casa nos últimos anos”, adiantou. "Temos salvo muitas pessoas, mas se não somos avisados a tempo, não podemos intervir", lamentou.

Em 2011, os bombeiros receberam 1511 chamadas para abertura de porta com socorro. Nestas intervenções foram salvas 1129 pessoas que precisavam de apoio e resolvidas 303 situações de risco (como fogões acesos ou outras), mas 79 pessoas foram encontradas já mortas nos seus apartamentos. No ano anterior, tinham sido 60, segundo os dados disponibilizados pelo vereador Manuel Brito.

O RSB e a Protecção Civil têm uma brigada permanente para apoio a pessoas que vivem sozinhas e idosos. A equipa vai ao encontro das pessoas que estão identificadas como vivendo sozinhas e sem família conhecida. No entanto, sublinha Manuel Brito, “a equipa só pode intervir se for alertada”.

As irmãs não tinham mais familiares. Foi um vizinho que alertou a PSP por estranhar a ausência das duas. O RSB forçou a entrada no apartamento e encontrou as mulheres já cadáveres, em avançado estado de decomposição.

“Há aqui uma rede social indispensável, formada pelos vizinhos e pela família, que não está a funcionar”, lamenta o vereador.

Segundo a Rádio Renascença, a Junta de Freguesia das Mercês nunca recebeu qualquer sinalização do caso para pedir assistência domiciliária.

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