Stiglitz diz que acordo de concertação social é “uma política no bom sentido”

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Stiglitz (direita) mostra-se preocupado com a pressão sobre os salários nacionais Dário Cruz

Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001, elogiou hoje o acordo entre o Governo e os parceiros sociais para a reforma do mercado laboral. Mas avisou que a pressão sobre os salários é contraproducente e terá impacto na economia.

Joseph Stiglitz não tem dúvidas de que a recessão em Portugal será maior este ano, mas diz que há vários sinais positivos. Um deles é o acordo assinado hoje entre o Governo e os parceiros sociais, sobretudo ao nível das medidas de políticas activas de emprego e para o crescimento, que “são certamente medidas na direcção certa”.

O economista, que falava aos jornalistas à margem do Congresso da Distribuição Moderna, organizada pela Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), em Lisboa, defende que é preciso ir além da austeridade, mas salienta que o Governo português “está consciente disso e a trabalhar nessa direcção”.

No entanto, Joseph Stiglitz não esconde a preocupação com a pressão em baixa sobre os salários em Portugal, que irá diminuir ainda mais o consumo privado e, consequentemente, aprofundar a recessão. “A única preocupação que tenho é que, como estão a puxar os salários para baixo, tal terá efeitos negativos na procura agregada, tornando-se contraproducente”, avisa o economista, salientando, contudo, que este problema não é exclusivo de Portugal.

O prémio Nobel dá como exemplo os Estados Unidos, onde a indústria está a tentar recuperar com salários que são um terço dos que eram antes da crise. “Estamos a tornar-nos [os EUA] um país do terceiro mundo, isso será a base da prosperidade daqui para a frente?”, interroga-se, sublinhando que “não podemos pensar apenas em cortar e cortar”.

Joseph Stiglitz deixou ainda algumas sugestões ao Governo português, dizendo que é fundamental manter as políticas activas de emprego, garantir o acesso ao financiamento por parte das Pequenas e Médias Empresas (PME) e tentar obter fundos do exterior para promover o investimento, dando como exemplo os fundos do Banco Europeu de Investimentos (BEI).

Stiglitz acredita que Portugal permaneça na zona euro, mas avisa: “a grande questão é saber se a zona euro vai sobreviver e isso não depende de Portugal, mas de como os líderes europeus vão responder à crise”.

Para o economista, a via da austeridade não é a solução e pode, quando muito, prevenir a próxima crise. O prémio Nobel defende que são os países com margem de manobra orçamental, como os EUA, a Alemanha e o Reino Unido, que têm a responsabilidade de usar essa margem para estimular a economia europeia e mundial e ajudar outras economias. No caso concreto da Europa, Stiglitz diz que é preciso um programa europeu alargado de crescimento económico, em que os países do euro usariam a sua “força colectiva” para pedir financiamento a taxas de juro baixas (os eurobonds – emissão conjunta de dívida europeia) e empregariam esse dinheiro em investimentos que estimulassem a economia.

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