Se existir, o bosão de Higgs vai provavelmente ser descoberto em 2012, diz o CERN

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Colisão de protões na experiência CMS DR

Ao início da tarde, em Genebra, os responsáveis por duas experiências que estão a decorrer no LHC, o gigantesco acelerador de partículas do Laboratório Europeu de Física das Partículas (CERN), apresentaram os seus mais recentes resultados na procura da famosa “partícula de Deus” – ou, mais cientificamente falando, do bosão de Higgs.

Ainda não foi desta vez que puderam anunciar ao mundo que o Higgs afinal existe mesmo, ao contrário do que os média internacionais vêm insinuando desde finais da semana passada. Algo que, no fundo, não foi uma surpresa, uma vez que no seu site, o CERN tinha há dias um comunicado que não deixava lugar para dúvidas: os resultados a ser apresentados não seriam conclusivos para afirmar a existência da partícula.

“Sejam prudentes”, disse aliás Rolf Heuer, director-geral do CERN, a uma assistência de dezenas de cientistas, no fim do seminário de duas horas transmitido em directo via webcast. “Ainda não o encontrámos. Mas fiquem atentos para o ano.”

O que Fabiola Gianotti, porta-voz da experiência ATLAS, e Guido Tonelli, porta-voz da experiência CMS, explicaram, é que os avanços experimentais feitos nos últimos meses – e até nas últimas semanas – pelas respectivas equipas têm sido espectaculares. E que os detectores de partículas estão a funcionar tão bem, com um tal nível de sensibilidade, que permitem entrar agora numa fase em que os sinais que vierem a ser detectados no LHC em 2012 poderão finalmente fornecer, “muito provavelmente”, uma resposta sólida à pergunta Shakespeariana em torno do Higgs: “Ser ou não ser”.

Há contudo uma coisa que ambas as experiências conseguiram fazer: reduzir a incerteza que pesa sobre o valor da massa do bosão de Higgs – um resultado que vai permitir procurá-lo com maior pontaria, por assim dizer. “Restringimos o intervalo de massa mais provável do bosão de Higgs para 116 a 130 Gev (Giga-electrãoVolts)”, disse Gianotti, “e, ao longo das últimas semanas, começámos a ver um interessante excesso de eventos [leia-se um pico, um sinal] à volta dos 125GeV.”

No entanto, a cientista não descartou nenhum desfecho: “Este excesso pode ser devido a uma flutuação [sem significado], mas também poderá ser algo de mais interessante. Não podemos concluir nada nesta fase. Precisamos de mais estudos e de mais resultados.” Todavia, também afirmou que, “dado o excepcional desempenho do LHC este ano, (...) podemos esperar resolver o enigma em 2012", salientando que "seria extremamente simpático se o Higgs estivesse mesmo aí", ou seja no intervalo de valores agora vislumbrado.

A existência do bosão de Higgs foi postulada na década de 1960 pelo físico britânico Peter Higgs. Antes dele, Isaac Newton descobrira que a gravidade é a força de atracção que existe entre todas as partículas com massa e Albert Einstein demonstrara a equivalência entre massa e energia, mas nada disto serviu para responder a duas questões: o que é, afinal, a massa, e de onde é que ela provém?

Enquanto esta partícula subatómica não for detectada, os cientistas não conseguem explicar a existência da própria matéria, à luz do actual modelo de compreensão da matéria e das forças que a unem - o chamado Modelo Standard. Por outras palavras, sem o bosão de Higgs fica mais difícil explicar porque é que existem coisas no Universo.

O LHC entrou em funcionamento em 2008 e a sua função é esmagar partículas subatómicas umas contra as outras a altíssimas velocidades, na esperança de que dessas colisões resulte a produção do bosões de Higgs.

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