EUA fala do início de "uma nova era" e UE do fim de uma época de "despotismo"

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Notícia da captura de Khadafi está a ser celebrada na Líbia Ismail Zitouny/Reuters

Sem surpresa, mas com apreensão, vários líderes mundiais reagiram às informações sobre a morte de Khadafi. Os EUA falam do início de "uma nova era" e a UE prefere falar do fim de uma época de "despotismo”.

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, considerou esta sexta-feira que a morte do antigo ditador marca “uma nova era” para o povo líbio.

Clinton - que se exprimiu durante uma conferência de imprensa em Islamabad - saudou “a vontade dos líbios de construírem uma nova democracia” e sublinhou que os Estados Unidos permanecerão “empenhadamente” ao lado dos seus cidadãos.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou aos combatentes de ambas as partes para que "deponham as armas, em paz", e considerou que "este dia marca claramente uma transição histórica para a Líbia".

Na União Europeia falou-se de um virar de página e do fim de uma ditadora. “A notícia da morte de Muammar Khadafi marca o fim de uma era de despotismo e repressão”, declararam hoje num comunicado conjunto o presidente da Comissão Europeia e o presidente do Conselho Europeu, José Manuel Durão Barroso e Herman Van Rompuy, respectivamente.

“Hoje a Líbia pode virar esta página da sua história e abraçar um novo futuro democrático. Pedimos ao Conselho Nacional de Transição que leve a cabo um processo de reconciliação alargado que chegue a todos os líbios e que permita uma transição democrática, pacífica e transparente no país”, indicaram ainda os mesmos responsáveis europeus.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, considerou que "o povo líbio tem hoje uma boa oportunidade de construir para si próprio um futuro forte e democrático", enquanto o chefe da diplomacia francesa, Alain Juppé, saudou "o fim de 42 anos de tirania na Líbia, após o anúncio pelas autoridades da morte do líder deposto Muammar Khadafi". Ao sublinhar o empenho da França em apoiar o povo líbio, Juppé considerou que "o anúncio da morte de Khadafi e a queda de Sirte representam o fim de um período muito difícil, o fim de 42 anos de tirania, de um conflito militar muito duro", disse aos jornalistas durante uma viagem a Nova Deli, citado pela AFP.

Mais tarde, o Presidente francês Nicolas Sarkozy considerou que o desaparecimento de Khadafi representa "uma etapa fundamental" para a libertação da Líbia e considerou que foi aberta uma nova página na vida dos líbios, "a da reconciliação, unidade e liberdade".

A tomada de Sirte pelas forças que se opuseram ao regime do coronel é "o início de um processo levado a cabo pelo CNT para criar na Líbia um sistema democrático em que todos terão lugar e as liberdades fundamentais serão garantidas", considerou Sarkozy.

Em Itália, que teve a Líbia como uma das suas colónias e foi uma antiga aliada do regime de Khadafi, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi reagiu às informações sobre a captura do coronel ao dizer que “a guerra acabou”. E o chefe da diplomacia italiana, Franco Frattini, adiantou que “este é um grande passo em frente” e que a morte do antigo líder líbio “foi uma operação do Conselho Nacional de Transição líbio e de mais ninguém”.

“Eu não me regozijo com a morte de um homem, mas podemos considerar que este conflito terminou”, adiantou o ministro italiano da Defesa, Ignazio La Russa, citado pela AFP. “Sem a intervenção da NATO, teria havido mais milhares e milhares de mortos”, considerou, adiantando estar “orgulhoso da participação de Itália” na operação “humanitária e militar” na Líbia. O Conselho Nacional de Transição líbio foi reconhecido por Itália a 4 de Abril.

A Rússia, que se opôs à intervenção da NATO e se absteve na votação no Conselho de Segurança que abriu caminho à intervenção militar, manifestou o desejo de que esta transição conduza “à paz e a um Governo democrático na Líbia”. O Presidente Dmitri Medvedev disse que todos os que irão governar a Líbia, incluindo representantes das várias tribos, “devem chegar a acordo sobre a configuração do poder para que a Líbia seja um país moderno e democrático”.

Também o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, considerou a captura de Khadafi “uma boa notícia”, e quando o CNT não tinha ainda anunciado a morte do antigo líder líbio disse esperar que este pudesse enfrentar a justiça no Tribunal Penal Internacional de Haia.

A China apelou, por seu lado, a uma “transição política unitária” e à preservação da “unidade nacional” na Líbia após a morte de Khadafi.

“Esperamos que a Líbia possa pôr em marcha o mais depressa possível um processo de transição política unitária, preservar a sua unidade étnica e nacional, e manter o mais possível a estabilidade social”, declarou Jiang Yu, porta-voz da diplomacia chinesa.

Pequim, que efectuou investimentos massivos nos caminhos-de-ferro, nas telecomunicações e nos carburantes líbios, contribuiu durante muito tempo para a estabilidade do regime do coronel. A segunda economia mundial pôs em marcha cerca de 50 grandes projectos na Líbia, por um valor estimado em pelo menos 13,1 mil milhões de euros, segundo o ministério chinês do Comércio.

A China, que não queria que os países ocidentais exercessem grande influência na Líbia, opôs-se aos ataques aéreos levados a cabo pela NATO e declarou durante o conflito que a reconstrução nacional deveria ser dirigida pela ONU. Pequim só tardiamente reconheceu o Conselho Nacional de Transição como a nova autoridade líbia.

Paulo Portas espera "início de um novo ciclo"

O ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, manifestou a expectativa de que a morte de Muammar Khadafi seja “o início de um ciclo novo” para a Líbia.

“A confirmar-se no terreno essa notícia, espero que seja o início de um ciclo novo na vida do Estado líbio (...) em que a comunidade internacional e a sociedade líbia se concentrem no futuro”, disse Paulo Portas numa conferência de imprensa conjunta com o homólogo palestiniano, Riad al-Malki, citado pela agência Lusa.

Para Paulo Portas, esse futuro deve caracterizar-se por um novo governo líbio que “seja inclusivo”, o fim do conflito “civil e ainda militar”, “um processo de reconciliação” e uma “transição para um Estado mais democrático e uma sociedade mais livre”.

Riad al-Malki afirmou também esperar que, a confirmar-se a morte do ex-líder líbio, “a oportunidade seja aproveitada pelos líbios” e evocou a disposição da Autoridade Palestiniana, como da comunidade internacional em geral e da União Europeia em particular, “para ajudar o povo líbio no que for necessário”.

“O que queremos ver é estabilidade, paz e segurança para o povo líbio, assim como a oportunidade de avançar para um processo democrático de construção de um Estado”, disse.

Notícia actualizada às 08h20, dia 21-10-2011
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