Portugal e Grécia devem sair do euro, defende George Soros

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Soros critica a posição alemã contra a emissão de obrigações europeias Jorge Silva/Reuters

Sair da moeda única e deixar a União Europeia (UE). Para o histórico investidor húngaro-americano George Soros, a crise da dívida em que está mergulhada a zona euro não deixa margem às economias portuguesa e grega que não seja abandonar o projecto europeu.

“O problema grego foi tratado tão mal que a melhor coisa a fazer neste momento seria a saída ordeira” da zona euro e da própria UE, propõe Soros, em entrevista publicada na revista alemã Der Spiegel citada pela AFP. O que Soros propõe para Portugal é exactamente o mesmo caminho. Defendendo uma saída ordeira, diz, “a UE e o euro “sobreviveriam”.

O investidor, que já se manifestara contra a “crónica divergência” europeia, voltou a falar na necessidade de os países da zona euro acertarem um mecanismo comum de emissão de euro-obrigações (títulos de dívida europeus). “Quer queiramos ou não, o euro existe. E para que possa funcionar de forma correcta, os países da zona euro devem ser capazes de refinanciar uma grande parte das suas dívidas nas mesmas condições”, justificou, insistindo numa ideia que defendeu em Março num artigo publicado pelo Project Syndicate.

Soros, muito crítico da posição alemã – que se opõe à criação de um esquema de emissão de obrigações europeias –, fez questão de sublinhar que não tem uma intenção especulativa contra o euro. No artigo de Março, Europa re-dividida?, defendia que a emissão de títulos de dívida europeus devia ser uma das atribuições do fundo de resgate do euro, promovendo a integração europeia. O último Conselho Europeu, em Julho, alargou as regras de funcionamento do fundo no âmbito do segundo resgate à Grécia, atribuindo-lhe maiores competências, dando assim um passo nesse sentido. Mas a criação de um verdadeiro mecanismo de euro-obrigações continua a não gerar consenso no interior do Eurogrupo. Itália ainda ontem referiu que o caminho da integração europeia deve ser a institucionalização de obrigações europeias. A Alemanha afasta esse cenário.

À Der Spiegel, Soros explicou que, ao defender a hipótese de saída de Portugal e Grécia da União Europeia, não pretende lutar “contra o euro”, contrapondo mesmo que “os chineses estão muito interessados numa alternativa ao dólar e farão tudo o que for preciso para ajudar os europeus a salvá-lo [a moeda única]”.

Diferentes taxas de juro incentivam à consolidação, diz Schäuble

Berlim voltou a marcar posição contra as ajudas ilimitadas aos países periféricos tocados pela crise das dívidas soberanas e especificamente contra a emissão de obrigações europeias. “Existem certos mecanismos de apoio que desenvolveremos sob condições estritas”, disse o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble.

Numa entrevista a publicar esta semana na mesma revista, Schäuble assegurou que “não haverá uma divisão de dívidas nem um apoio ilimitado”. A explicação? Enquanto for necessário, sustentou, os países devem ter “diferentes taxas de juro para que haja incentivo e mecanismos de sanção para forçar a consolidação”. E, nesse quadro, disse, a emissão de títulos de dívida comuns – as euro-obrigações, são indesejáveis, “a menos que cada país desenvolva a sua própria política de finanças”.

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