Autarca de Guimarães quer a demissão da líder da Capital Europeia da Cultura

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Presidente da câmara diz que há muitos atrasos na preparação Manuel Roberto

O presidente da Câmara de Guimarães quer que a presidente da fundação que gere a Capital Europeia da Cultura do próximo ano se demita. António Magalhães assume que não tem poderes para destituir Cristina Azevedo, mas, no início desta semana, retirou-lhe a confiança, de modo a forçar a sua saída da liderança da Fundação Cidade de Guimarães (FCG).

As intenções do autarca estão condicionadas pelos estatutos da FCG, que não são claros quanto à forma como poderia ser feita a substituição da líder da instituição. Face à existência de pareceres jurídicos contraditórios, a câmara considera não ter poderes para demitir Cristina Azevedo, que há precisamente dois anos foi nomeada pelo próprio António Magalhães.

O autarca vimaranense decidiu, no início desta semana, comunicar à presidente da FCG que lhe retirava a confiança. Magalhães deu conta dessa decisão ao executivo municipal numa reunião realizada ontem e diz agora esperar que Cristina Azevedo "tire consequências" desta decisão. "A presidente da fundação é suficientemente inteligente para perceber que, nestes moldes, haverá dificuldade em continuar no seu posto de trabalho", disse o presidente da câmara.

O assunto ainda não foi discutido com o Governo, parceiro do município na FCG, mas António Magalhães considera que não podia esperar mais para assumir aquilo que referiu como uma "ruptura". "Era impossível aguentar mais tempo o mal-estar que se tem sentido", salienta o autarca, para quem subsiste um "divórcio" entre a fundação e a câmara e a própria cidade.

Contactada pelo PÚBLICO, a administração da FCG não comentou a decisão de António Magalhães. No entanto, as declarações do autarca acabaram por ter reflexos na preparação da Capital da Cultura, uma vez que a reunião do Conselho de Administração marcada para ontem à tarde foi cancelada. Cristina Azevedo não esteve no Palácio Vila Flor durante toda a tarde e manteve-se incontactável.

As relações entre a autarquia e a administração da FCG têm vindo a deteriorar-se nos últimos meses, especialmente depois da reunião do Conselho Geral de Março, em que foram feitas críticas ao andamento do projecto da Guimarães 2012. "Fui sempre um defensor acérrimo do trabalho da fundação enquanto foi possível", diz Magalhães, acrescentando que passou a acompanhar mais de perto a preparação da Guimarães 2012 depois daquela reunião do Conselho Geral da FCG. "Verifiquei atrasos incompreensíveis", critica, assegurando que foi alertado várias vezes por responsáveis da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte para os atrasos verificados. "Não é possível continuar a trabalhar neste registo", reforça.

Há um mês, Magalhães já tinha feito notar a sua insatisfação pelo atraso de seis meses na celebração de um protocolo entre a FCG e a cooperativa municipal A Oficina, relativo à produção dos espectáculos para a Capital da Cultura. Há duas semanas, outro atraso, desta feita na candidatura a fundos comunitários, levou o presidente da câmara a acusar a FCG de ter o projecto "meio parado". A falta de contratualização dos quase 18 milhões do QREN destinados à programação cultural fizeram o autarca prometer ter uma conversa "séria e definitiva" com Cristina Azevedo.

A reunião nunca chegou a acontecer, dado o mal-estar entre os dois responsáveis. "A relação já não era muito simpática ao ponto de me poder encontrar com ela", justifica o autarca. António Magalhães confessa não ter conversado pessoalmente com a líder da Guimarães 2012, o que não o impediu de lhe comunicar a perda de confiança. "Fiz-lhe chegar a mensagem", diz.

O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, não quis comentar o anúncio ontem feito pelo presidente da Câmara de Guimarães. O governante manteve o silêncio acerca da declaração de perda de confiança do autarca na presidente da Fundação Cidade de Guimarães. Fonte da Secretaria de Estado da Cultura garantiu ao PÚBLICO que o Governo não tivera ainda "conhecimento oficial" da decisão de António Magalhães, escusando-se, por isso, a comentar as declarações do autarca.

Viegas reserva uma posição sobre o assunto para hoje, depois de se encontrar com o autarca António Magalhães, para se inteirar dos problemas vividos no seio da Guimarães 2012. A reunião acontece esta tarde, no Porto, aproveitando uma visita oficial do secretário de Estado a vários equipamentos culturais da região, como a Fundação de Serralves e o Teatro Carlos Alberto. O encontro chegou a estar previsto para a semana passada, mas os dois responsáveis não conseguiram compatibilizar as respectivas agendas.

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