Estudo conclui que Portugal é um país de gestores e engenheiros

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Fernando Veludo

Quase um quarto dos alunos que frequentam o ensino superior em Portugal está a tirar Gestão e cursos na área da Engenharia. Esta é uma das principais conclusões que se pode retirar da Caracterização do sistema de ensino superior 2009/2010, o primeiro grande estudo elaborado pela Agência de Avaliação do Ensino Superior (A3ES) sobre o ensino superior em Portugal, abrangendo os vários sectores e subsectores e tipo de ensino.

De acordo com o estudo, a que o PÚBLICO teve acesso, o número global de estudantes ascende a 402.727 e a oferta de cursos em funcionamento ultrapassa os quatro mil (4044). A Agência aponta para "uma distorção da oferta que resulta da lentidão de reacção do sistema às mudanças da procura e uma falta de estratégia a médio/longo prazo das instituições".

Do total de alunos, mais de três quartos (312.251) estão a frequentar o ensino público: 192.641 no universitário, 118.702 nos politécnicos e 908 no ensino militar e policial. Nas instituições privadas, encontram-se 78.060 alunos, sendo que a maioria (52.567) está em universidades e 25.493 nos politécnicos. Os restantes 12.416 frequentam o ensino concordatário. O estudo da A3ES concluiu que 2991 dos cursos (74 por cento) estão no ensino público, enquanto que o privado é responsável por 912 (23 por cento) e o concordatário tem 414 (três por cento). Analisando só o sector público, verifica-se que 70 por cento dos cursos estão concentrados no ensino universitário e 28 nos institutos politécnicos. No sector privado, a proporção é de 65 e 35 por cento, respectivamente.

Gestão é o que tem mais

A área de educação/formação com mais alunos e a segunda com mais cursos é a das Ciências Empresariais, com mais de 59 mil estudantes (15 por cento do total) e 473 cursos (12 por cento). Só em Gestão e Administração estão 34.635 alunos, o que o torna o curso com mais estudantes em Portugal. No ano 2000, e de acordo com os dados da Direcção-Geral do Ensino Superior, o curso de Gestão ocupava só o sétimo lugar entre os cursos com mais vagas e nem aparecia no top ten dos cursos com mais preferências dos candidatos ao ensino superior.

A segunda área com mais estudantes é a da Engenharia, com um total de 57.778 estudantes (14 por cento). Neste segmento, o curso de metalurgia e metalomecânica é o que abrange mais alunos com quase 19 mil.

Mas, de acordo com o levantamento efectuado pela Agência, o segundo curso que mais pessoas abrange é o da formação de professores/formadores na área das Ciências da Educação, com um total de 25.436 (seis por cento do total). Apesar de ter vindo a perder vagas nos últimos anos, esta área continua a ser a que mais cursos tem em todo o ensino superior, com quase 500 em funcionamento (12 por cento do total).

Em terceiro lugar em ambos os rankings surge o curso de Ciências Informáticas com, respectivamente, 22.623 alunos e 173 cursos. Direito, que no ano 2000 era o segundo curso com mais vagas em Portugal, tem vindo a perder terreno, mas ainda assim aparece no quinto lugar do ranking dos cursos com mais estudantes, com 18.495 (89 cursos).

A comparação entre os subsectores público e privado permite concluir que as áreas de estudo mais pretendidas são as Ciências Empresariais, o Direito e os Serviços Sociais. No ensino universitário, há três áreas que são dominadas claramente pela oferta do subsector público: Agricultura, Silvicultura e Pescas; Ciências Físicas; e Matemática e Estatística. Já no ensino politécnico, "a competição entre os subsectores público e privado é mais clara nas áreas do Direito; da Formação de Professores e Ciências da Educação; e da Saúde", refere a Agência, que concluiu ainda que "há áreas dominadas exlusivamente pela oferta do subsector público: Agricultura, Ciências Físicas, Ciências Veterinárias, Indústrias Transformadoras e Protecção do Ambiente.

Analisando a ofertas nas diversas áreas de estudo relativamente ao ensino politécnico e universitário, verifica-se que o segundo "domina a oferta em todas as áreas, excepto a dos Serviços de Transporte". A área da Saúde é aquela onde há uma distribuição mais equitativa entre estes dois tipos de ensino e as áreas das Ciências Físicas e da Matemática são áreas do ensino universitário.

No politécnicos públicos, 29 por cento dos estudantes estão em cursos de Engenharia e, "ao contrário do ensino universitário, há uma predominância mais evidente de uma área relativamente a outras".

Saúde domina no privado

No sector privado, a área da Saúde é claramente a área com mais estudantes, com 20 por cento do total. Os cursos de Enfermagem e de Terapia e Reabilitação são os principais responsáveis por esta situação, com quase 6 por cento cada. Os cursos de Gestão (12 por cento), Formação de Professores (10), Psicologia (9) e Direito (8) aparecem a seguir.

O estudo concluiu ainda em relação ao politécnico privado, que se registou uma "reconversão" com um "enorme aumento" da influência da área da Saúde (Enfermagem, Terapia e Reabilitação, Diagnóstico e Terapêutica e Farmácia) que já ultrapassou claramente a Educação (41 por cento contra 17 por cento) e "a diminuição" de influência da Gestão, por saturação do mercado, ocupando agora apenas 9 por cento. A Agência prevê mesmo "uma crise a curto prazo na área da Saúde por excesso de oferta". Por outro lado, considera "interessante" a ausência da Engenharia e da Agricultura.

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