Séculos de testemunhos de cientistas da Royal Society estão disponíveis ao público

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Um dos 20 documentos é uma carta de Benjamin Franklin DR

Desde 1660 que a Royal Society de Londres tem recolhido documentos enviados por exploradores e cientistas de todo mundo. Agora, alguns destes objectos foram digitalizados e estão disponíveis no site da instituição desde esta sexta-feira.

Quem aceder às digitalizações, pode folhear os documentos e ler relatos de expedições feitas aos quatro cantos da Terra. Um dos testemunhos é de Edward Sabine que fazia parte de uma expedição ao Árctico com o objectivo de encontrar a rota Noroeste pelo mar. A viagem parou em 1818 quando o comandante do barco, John Ross, disse que viu uma montanha que bloqueava o caminho

“Sabemos das grandes aventuras heróicas a ambos os pólos, onde as pessoas arriscavam as vidas”, disse ao jornal britânico The Guardian Keith Moore, responsável pela biblioteca e arquivos do Centro de História da Ciência da Royal Society. “Aqui está uma descrição onde apesar de terem tido a oportunidade de encontrar a passagem por Noroeste, e estavam quase a consegui-lo, John Ross desistiu.”

No diário, Sabine mostra haver dúvidas sobre a decisão do comandante. Só Ross é que viu as montanhas e a tripulação já tinha vivido ilusões ópticas. “Eles estavam preparados para passar lá o Inverno, tinham óleo de baleia, carne de foca. Depois Ross decide que não vai naquela direcção”, explica Moore.

Segundo o especialista, este é apenas um dos 250 mil documentos que a instituição tem. “Desde 1660 que a Royal Society tem vindo a recolher documentos enviados de todos os lados do mundo”, explicou. Para já foram digitalizados 20.

Um dos documentos é uma carta de Benjamin Franklin, o cientista e político norte-americano que fez diversos estudos em electricidade, fala de uma observação que fez durante uma viagem no oceano. “Ele vê óleo a ser atirado para o mar por um cozinheiro do navio e observa as águas a acalmarem-se”, descreveu Moore.

Franklin tinha o hábito de pensar logo numa aplicação prática quando observava um fenómeno novo. Neste caso, o cientista sugere a utilização de óleo para acalmar o mar perto da costa em situações de salvamento de pessoas.

O diário do astrónomo Johj Herschel, de 1839, é um testemunho de como o cientista foi co-autor na invenção da fotografia. “William Henry Fox Talbot tinha a grande ideia de utilizar uma câmara para tirar uma imagem, mas não conseguia fixar a imagem e torná-la permanente num papel. Foi John Harschel que o fez”, contou Moore. No diário, o astrónomo escreveu as experiências que desenvolveu para atingir o objectivo.

Há vários documentos sobre expedições feitas à Antárctica, a África, um diário com desenhos de fósseis, estudos anatómicos, etc. Mas há também manuscritos que mostram o impacto do contacto com outras culturas.

O soldado britânico Samuel Holmes, que fez parte do conjunto de pessoas que fizeram a primeira viagem diplomática até à China, na década de 1790, descreve pela primeira vez o acto de enrolar o cigarro, que viu alguns malaios fazerem. O cigarro era feito com “um tipo de erva ou papel fino onde eles enrolam o tabaco e fumam-no como nós fazemos com o cachimbo”, escreveu Holmes.

O objectivo final da instituição é publicar o máximo de documentos que for possível. “Arranhámos a superfície. Temos realmente uma bela colecção de manuscritos e documentos históricos”, disse Keith Moore. “As pessoas estavam a enviar informação científica da China, das colónias do novo mundo, de todos os locais. Isto é a nossa tentativa de dar de volta ao mundo um pouco dessa informação.”

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