Empresas cobram até 12 euros para preencher papéis dos Censos

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Situações de burla detectadas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto Foto: Daniel Rocha

Há empresas que estão a cobrar aos cidadãos entre seis e 12 euros para preencherem os questionários dos Censos 2011. A denúncia partiu do Instituto Nacional de Estatística (INE), que, numa nota enviada ontem às redacções, lembrou que "existe uma estrutura no terreno disponível e vocacionada para ajudar, ou preencher na íntegra, os questionários".

"Os cidadãos que precisem de apoio" - lembra ainda o INE - "podem obtê-lo junto do recenseador ou no balcão de atendimento dos Censos nas juntas de freguesia". Ao PÚBLICO, fonte deste organismo especificou que as situações de burla foram registadas nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. As situações foram reportadas por idosos, poucos dias depois de terem sido conhecidas algumas burlas relacionadas com a entrega dos questionários porta a porta.

Na Figueira da Foz, uma mulher de 84 anos foi burlada em mil euros depois de ter aberto a porta a um homem que a interpelara a propósito dos Censos. Na sequência disso, e das preocupações manifestadas por muitos idosos, algumas juntas de freguesia decidiram personalizar os coletes que identificam os recenseadores. Por exemplo, em Oliveirinha, concelho de Aveiro, os recenseadores foram identificados com fotografias, as quais foram previamente divulgadas junto da população, para que as caras se tornassem conhecidas.

Por causa das queixas dos cidadãos, a presidente do INE, Alda Carvalho, veio lembrar que os recenseadores estão identificados com cartão e fotografia e usam coletes com o logótipo da iniciativa. Em caso de dúvida, o nome do recenseador pode sempre ser confirmado junto do INE.

Noutra frente, os Censos 2011 continuam sob cerradas críticas por causa da controversa pergunta n.º 32, que convida os que trabalham "a recibo verde" a declararem-se como trabalhadores por conta de outrem, desde que tenham "um local de trabalho fixo dentro de uma empresa, subordinação hierárquica efectiva e um horário de trabalho definido". Porque tal "contribuirá para camuflar a realidade do trabalho precário em Portugal", vários movimentos de trabalhadores precários voltaram ontem a exigir a reformulação da pergunta. A novidade é que apelaram à apresentação maciça de queixas junto do provedor de Justiça, Alfredo José de Sousa, tendo mesmo disponibilizado um texto para o efeito.

"Quantas mais pessoas reclamarem, mais importância o caso ganhará do ponto de vista do INE e do próprio Ministério da Administração Interna, que supervisiona o processo", justificou ao PÚBLICO Adriano Campos, do Movimento Fartos/as d"Estes Recibos Verdes (Ferve).

Dispostos a "esgotar todas as possibilidades de resposta" - apesar de o INE garantir que os inquéritos seguem todas as recomendações internacionais -, os representantes dos trabalhadores precários admitem recorrer aos tribunais para obrigar o INE a "emendar este apelo à mentira dirigido às vítimas dos falsos recibos verdes", como se lê num comunicado subscrito pelo Ferve, mas também pela Plataforma dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual, pelos Precários Inflexíveis e por três pessoas ligadas à manifestação da Geração à Rasca, do passado dia 12.

Para Adriano Campos, está em causa a transparência dos elementos recolhidos pelo INE, porque "muitas pessoas que recusam declarar-se como trabalhadores por conta de outrem estão a optar por preencher o quadradinho que diz "Outra Situação", sem especificar qual".

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