Ofensiva do regime líbio contra a rebelião avança para Ajdabiya

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O Exército de Khadafi continua em marcha avançada para Leste Foto: Chris Helgren/Reuters

As forças militares leais ao líder líbio Muammar Khadafi lançaram esta manhã novo ataque aéreo mais para dentro do território do Leste do país, com os bombardeamentos a incidirem hoje em Ajdabiya, numa aproximação cadente de Bengasi, o bastião dos rebeldes, a pouco mais de 160 quilómetros de distância.

Pelo menos quatro obuses foram disparados sobre a cidade, tendo atingido um campo militar e um hospital – mas sem provocar vítimas de acordo com fontes da rebelião ouvidas pelas agências noticiosas.

Na estrada de Adjabiya para Norte, em direcção a Bengasi, centenas de civis fogem esta manhã, sob uma forte tempestade de areia, em camionetas carregadas de malas e sacos, é testemunhando pelo correspondente da agência noticiosa francesa AFP. A Al-Jazira contrapunha, porém, que muitos residentes se recusam a partir, garantindo quererem preparar-se para combater as tropas de Khadafi.

Este cenário é muito semelhante ao da véspera, em que os combates se aproximaram da cidade petrolífera de Brega (80 quilómetros para Oeste de Ajdabiya), e de onde centenas de pessoas fugiram para zonas do deserto, face o avanço das tropas de Khadafi. Várias famílias estão agora em tendas improvisadas e começa a faltar-lhes os alimentos e medicamentos, descreve o jornalista local Arish Saeed, citado pela Al-Jazira.

O regime líbio reclamara ontem a reconquista de Brega, a uns 240 quilómetros de Bengasi, mas a rebelião sustenta esta manhã ter conseguido voltar a recuperar aquela cidade, após intensos combates durante a noite. “Pelas 8h30 da noite [hora local, mais duas em Lisboa], o chefe de operações na frente deu ordens para cercá-los [os soldados de Khadafi]. Matámos 25 e prendemos 20. Também capturámos e destruímos muito do equipamento e armas deles. Agora já só alguns grupos dispersos pela zona oeste de Brega”, conta o porta-voz do movimento Revolução 17 de Fevereiro, Hamed Al Hassi.

A mesma ideia foi também já reiterada pelo major Omar Al-Hariri, chefe militar do Conselho Nacional Líbio – a “cara política” da revolução, criado em Bengasi. “A juventude revolucionária e as nossas forças armadas reorganizaram-se e venceram as forças de Khadafi, que se encontram enfraquecidas por não estarem a combater por uma causa. As forças revolucionárias conseguiram por isso retomar Brega e empurrar as forças de Khadafi para fora de Brega e de Al-Uqaila, onde estão agora a tomar posições defensivas fortificadas”.

A situação no terreno permanece assim confusa, com a televisão estatal líbia a asseverar que Brega se encontra sob controlo das tropas do regime e que o exército de Khadafi continua em marcha avançada para Leste para “purgar” todo o país. Ao longo da última semana, o regime líbio conseguira recuperar Benjawad e o importante porto petrolífero de Ras Lanuf – empurrando os rebeldes cada vez mais para Leste.

Do lado Ocidental, emergem relatos de um novo ataque das tropas de Khadafi sobre a pequena cidade de Zuwara (cerca de 40 mil habitantes), uma das últimas regiões que permanecem nas mãos da rebelião daquele lado do país. “Vêm do lado leste e também do lado oeste e sul. Estão a apenas um quilómetro de distância e estão a disparar morteiros. As lojas estão todas fechadas, e as pessoas fechadas em casa, aterrorizadas. Os rebeldes foram tentar defender a cidade mesmo assim”, descreve um residente de Zuwara, Tarek Abdallah, citado pela agência noticiosa britânica Reuters.

Zuwara fora palco de combates entre as duas facções no início da insurreição contra Khadafi, mas desde então pouco se soube do que se passava na cidade. Bem perto, Zauia, alguns quilómetros mais para Leste e já às portas da capital, Trípoli, caíra para as tropas leais ao regime na semana passada. Do lado Ocidental do país já só mesmo Misurata, continua sob o controlo da rebelião.

Ali, residentes e rebeldes testemunham que um ataque das forces de Khadafi foi impedido nas últimas horas apenas devido a um motim nas tropas do regime – o que as autoridades líbias negam firmemente. “Durante a noite houve combates violentos e ainda foram disparados morteiros pelas primeiras horas da manhã. Mas agora parou. Não sabemos porquê. Talvez se tenham cansado, ou talvez um dos grupos tenha vencido ao outro. As coisas não estão claras”, conta um morador de Misurata à Reuters.

A televisão estatal líbia anunciou já esta manhã que o regime de Khadafi estenderá uma amnistia também aos soldados que desertaram para se juntarem à rebelião ao longo destas últimas quatro semanas – depois de ter oferecido similar perdão, na semana passada, também a todos os rebeldes, não militares, que depusessem as suas armas. “Todos os soldados que foram enganados [pela rebelião] e voltarem mostrando arrependimento e entreguem as suas armas serão amnistiados”, é relatado.

Rússia interdita Khadafi e familiares

O Presidente russo, Dmitri Medvedev, anunciou esta manhã que Muammar Khadafi e familiares estão banidos de entrar em território da Federação Russa, assim como de proceder a qualquer tipo de operações financeiras na Rússia e com empresas russas.


Esta é a mais recente sanção a emergir da comunidade internacional contra o regime líbio – na esteira de passos similares dados quer individualmente por vários países como em bloco, no seio da União Europeia, da Liga Árabe e das Nações Unidas.

A comunidade internacional permanece porém profundamente dividida sobre medidas mais interventivas, nomeadamente a de imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, que impeça os bombardeamentos das tropas de Khadafi – como lhe é repetidamente pedido pelo Conselho Nacional Líbio.

Notícia actualizada às 14h40
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