BE inspira-se nos problemas da geração “parva” e suaviza críticas ao PSD

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Francisco Louçã dá este sábado uma conferência de imprensa Enric Vives-Rubio

Foi anunciada como uma moção de censura contra o Governo e contra o PSD, por pertencer à “maioria orçamental” que aprovou o Orçamento de 2011, o PECII e o aumento do IVA. Uma semana depois, o Bloco de Esquerda divulgou o texto da moção que será discutida no Parlamento a 10 de Março e as referências ao PSD de Passos Coelho, que já anunciou a “morte” da censura com a abstenção, são tudo menos explícitas.

As três letras da sigla do partido de Passos nunca aparecem. Aparece, sim, uma inspiração nos problemas de precariedade da geração “parva”, já eternizada pela canção dos Deolinda, e a acusação ao Executivo de José Sócrates de, “apesar de ter sido suportado por uma grande maioria parlamentar nas mais importantes decisões económicas”, não responder ao desemprego, pobreza e precariedade. Mas se a sigla PSD não está, as críticas também se aplicam aos sociais-democratas, que apoiaram grande parte das medidas de austeridade.

A partir de segunda-feira e até à data do debate, os bloquistas vão para a rua explicar a sua moção. Haverá acções em todos os distritos, com dirigentes do BE, que vão distribuir um jornal com as razões da censura a Sócrates e que tem já destino traçado: o “chumbo”. Este sábado, o coordenador do Bloco, Francisco Louçã, apresenta, em conferência de imprensa, as razões dos bloquistas.

Debaixo de fogo cerrado da oposição de direita e do PS, que tenta fazer passar a ideia do efeito de uma moção de confiança, dirigentes do Bloco ouvidos pelo PÚBLICO admitem que a moção já teve um efeito clarificador de pôr a direita ao lado do Governo. E desdramatizam as divergências internas dentro do partido à estratégia de apresentar a moção, que já provocou demissões. Numa frase, são “críticos” que sempre foram “críticos”, na expressão de um dirigente nacional.

Em duas páginas, a segunda moção de censura da legislatura (a primeira foi do PCP no ano passado e foi chumbada) tem uma fundamentação ideológica e de esquerda. A começar pela acusação de que o Executivo do PS adoptou uma “política económica e social que tem atingido essencialmente os trabalhadores sem emprego e os jovens da geração mais preparada”. E aqui entra a referência aos precários: “Existe hoje mais de um milhão de trabalhadores em situação totalmente precária, incluindo uma parte paga a troco de falso recibo verde”, lê-se no texto.

O BE quer que a moção signifique uma recusa ao “gigantesco embuste da distribuição equilibrada dos sacrifícios “, atacando também a “estratégia agressiva” que encara o subsídio de desemprego “como um custo e não como um direito”.

O Governo “ignorou os sinais dos eleitores” e o BE enumera as consequências da política do PS: um “agravamento da crise social com o aumento dos impostos”, a “queda do investimento público” e “redução de salários”, além dos cortes nos “apoios sociais e outras prestações a centenas de milhares de famílias”.

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