CP recua e admite analisar fim do Intercidades Lisboa-Beja

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Segunda-feira realizou-se a última viagem do comboio regional no ramal de Cáceres Foto: Nuno Ferreira Santos

Contrariamente ao que chegou a estar previsto no plano de contenção de custos da CP, a linha férrea entre Beja e Funcheira acabou por não fechar, e o anúncio do fim do serviço Intercidades directo entre Lisboa e Beja poderá ter sido precipitado. Isto porque a transportadora já admite rever a situação futura deste último serviço, cujo anunciado fim, explicado nas páginas do PÚBLICO pelo presidente da companhia, José Benoliel, gerou forte contestação naquela cidade alentejana.

Em relação ao serviço regional da automotora que faz duas viagens por dia em cada sentido entre Beja e Funcheira, Ana Portela, porta-voz da CP, disse ao PÚBLICO que este en- cerramento nunca chegou a estar "decidido", mas sim em "análise". Certo é que estava anunciado o encerramento desta ligação para Janeiro e, depois, para Fevereiro.

Quanto à possibilidade de ser também uma simples automotora a fazer a ligação de Beja a Casa Branca onde daria correspondência aos Intercidades de Évora, a mesma fonte disse que é uma situação que "ainda não está decidida".

Em análise, também segundo a mesma fonte, está a possibilidade de Beja poder ter automotoras a dar ligação aos Intercidades de Évora, situação que "ainda não está decidi- da". Um recuo da empresa, face aos protestos gerados pela secundarização desta cidade em relação a Évora no que diz respeito às ligações ferroviárias directas à capital.

No Norte do país, o cenário de cor- tes é diferente, mantendo-se as intenções iniciais. A meia Linha de Leixões acabou por fechar mesmo (nunca se chegou a avançar para a segunda fase e efectuar o serviço até ao Hospital de São João onde havia maior potencial de mercado), mas a CP assegura ainda compromissos assumidos nas linhas do Corgo (Régua-Vila Real) e do Tâmega (Amarante-Livração) e no ramal da Figueira da Foz à Pampilhosa através de um serviço rodoviário alternativo que cumpre o mesmo percurso dos comboios. E que não sai barato à empresa, pois paga por eles 438 mil euros por ano a empresas rodoviárias.

No entanto, tradicionalmente, sempre que o serviço ferroviário é "sus- penso", a CP disponibiliza autocarros durante algum tempo, acabando mais tarde por retirar-se dado não ser essa a sua principal actividade. Aconteceu assim em todas as linhas encerradas no Alentejo e em Trás-os-Montes nos finais dos anos de 1980. O PÚBLICO apurou que a Refer não tem qualquer calendarização para reabilitar e reabrir aquelas três linhas.

O GAFNA - Grupo de Amigos da Fer- rovia Norte Alentejana emitiu um comunicado no qual diz que o distrito de Portalegre e o Alentejo "estão de luto" por ter sido suprimido, ao fim de 131 anos, o serviço regional ferroviário no ramal de Cáceres. E acusa a CP de contribuir para aumentar o isolamento geográfico de um vasto território (o ramal de Cáceres liga Torre das Vargens a Beirã-Marvão numa distância de 65 quilómetros), diminuindo a mobilidade das populações, dado que a alternativa rodoviária (Rede de Expressos) é mais morosa e mais cara.

E dão um exemplo: uma viagem de Castelo de Vide para Coimbra demora sete horas e 20 minutos em autocarro e custa 26,50 euros; de comboio, mesmo na velha automotora regional a mesma viagem demorava três horas e meia e custava 12 euros (ou 19 euros se se viajasse num Intercidades a partir do Entroncamento).

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