Cerimónias fúnebres de Vítor Alves realizam-se esta tarde

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Vitor Alves fotografado em 2004 Miguel Silva

Membro da direcção permanente do Movimento das Forças Armadas, ao lado de Otelo Saraiva de Carvalho e de Vasco Lourenço, Vítor Alves é recordado como um diplomata.

“Foi um homem de extrema importância para o movimento”, lembrou ao PÚBLICO Otelo Saraiva de Carvalho. “Foi comigo até ao fim”.

Otelo Saraiva de Carvalho enaltece a grande capacidade de moderação de Vitor Matos, que trata como “um diplomata”: “Enquanto dirigente do MFA, durante o PREC e mesmo após o 25 de Novembro, foi um camarada de grande moderação. Procurava sempre pôr água na fervura quando alguém queria tomar atitudes repentinas. ‘Sejamos realistas!’. Era a frase dele. E os seus argumentos acabavam por nos convencer. Era um diplomata, um 'gentleman'”.

Otelo recorda que foi Vítor Alves o responsável por sugerir que a Junta de Salvação Nacional tivesse na linha da frente generais e não capitães: “Achava que ia parecer uma coisa terceiro-mundista, que não dava um sinal positivo ao país e ao mundo ocidental, que os generais passavam uma imagem de maior tranquilidade. E foi assim que surgiram os nomes de Spínola e Costa Gomes, entre outros. Foi sempre um homem de grande ponderação”.

Durante o PREC Otelo e Vítor Alves acabariam por divergir muitas vezes, como aconteceu na ocupação dos latifúndios no Alentejo, promovida por Otelo. “Mas nunca nos afastámos. Visitei-o a última vez a 31 de Dezembro. Já estava em vésperas de morte”.

Vítor Alves era membro da direcção permanente do MFA, ao lado de Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho e foi em sua casa que ocorreram muitas das reuniões que planearam o movimento que levou à queda da ditadura: “Foi na sua casa que a 22 de Março de 1974 Antunes apresentou o documento que seria o programa político do MFA”, lembrou Otelo Saraiva de Carvalho. “Ele foi um dos responsáveis pelo programa político”.

Vítor Alves nasceu em Setembro de 1935 em Mafra, onde iniciou a vida escolar. Matriculou-se na Escola do Exército em 1954 e passou à reforma em 1991. Tinha a patente de coronel desde 2001.

Durante a vida militar, esteve colocado em várias unidades, incluindo no Ultramar em comissão de serviço, onde permaneceu 11 anos, em Moçambique e Angola.

Fez vários estágios e cursos militares e em 1969 foi-lhe atribuído o Prémio Governador-Geral de Angola pelo trabalho desenvolvido no campo das atividades socioeconómicas em prol das populações africanas.

Recebeu em Portugal vários louvores e condecorações, entre os quais a Medalha de Mérito Militar e a Medalha de Comportamento Exemplar de Prata.

Foi nomeado para o cargo de ministro sem pasta em 1974, tendo exercido essas funções até 1975.

Nessa qualidade foi responsável pelas pastas da Defesa Nacional e da Comunicação Social, tendo visto aprovada, por sua iniciativa, a primeira lei de imprensa pós-25 de abril, que vigorou até 1999. Foi também porta-voz do Governo.

Desempenhou funções de ministro da Educação e Investigação Científica em 1975 e 1976.

Uma década depois seria candidato independente pelo PRD às eleições legislativas (1985), à presidência da Câmara de Lisboa (1986) e ao Parlamento Europeu (1987).

Participou na fundação da Associação 25 de Abril e posteriormente no conselho de acompanhamento do ministro da Justiça (1997-2000).

Vítor Alves recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (1983), entre muitas outras distinções dentro e fora de Portugal.

Em 1982, foi nomeado conselheiro do então Presidente da República, Ramalho Eanes, ano em que passou à reserva como militar e foi extinto o Conselho da Revolução de que foi porta-voz.

O corpo do coronel Vítor Alves esteve em câmara ardente a partir das 18h00 de domingo na Capela da Academia Militar, em Lisboa.

Notícia actualizada às 09h40 de dia 10 de Janeiro